segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Maio em setembro



Era setembro, imaginei ser maio. O mês de Maria, das noivas, das noites de novenas. De lírios brancos, açucenas, cajados-de-São José, sorrisos-de-Maria e florzinhas outras, igualmente singelas.

Era dia, imaginei noite. Junto à parede da sala, a velha máquina de costura: coberta de branco, feita de altar para receber a Virgem Maria. Duas velas erguidas em pires, postas nas laterais, copos de vidro improvisando vasos evocando à reverência Mariana através do cheiro das rosas amélia.

Era presente, imaginei passado. Senhorinhas antigas brandando "A treze de Maio na cova da Íria, no céu aparece a Virgem Maria..." Interessante perceber como tais senhoras cantavam com um R e um U bem pronunciados e espremidos em ViURgem Maria... gostava de ouvir essa entonação. 

Era sério, imaginei ser graça. Chegada a hora das preces individuais, no qual todos faziam seus pedidos, uma senhora muito fidalga, Dona Creusa, sempre rogava à gentil Santa uma "graça em particular". As crianças gostaram de tal. Nesse momento, era capaz da novena não ter mais fim. Meninos e meninas de olhos fixos e 'ventas" acesas 'fungando' para fazer as velas flamejarem, davam início a uma sequência interminável de pedidos de 'graça em particular'. Era o momento de graça, literalmente.

Era simples, parecia especial. Havia quem não gostasse. Dona Conceição mesmo, certa feita, resmungou: "Que danado esses "menino" tem pra pedir tanta graça em particular", não sabia ela que na imaginação nossa, tal graça deveria ser muito especial aos nossos ouvidos, então porque não clamar à Virgem para recebê-las também?

Era a vida e parecia ficção. Paqueras inocentes pareciam amor eterno.Naquelas noites santíssimas, à sombra das graças de Maria, aquelas crianças e senhoras pareciam personagens de um conto qualquer, aquela vida comezinha parecia imagem, vagueia ainda no passado, traz à tona maio, mesmo sendo setembro.


Geneceuda Monteiro - 10 de Setembro de 2012

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