"Bom dia Nordeste, bom dia Brasil. Pelo som da Borborema nesse céu azul anil, Zé Bezerra às suas ordens comandando o forró, liderança em audiência simplesmente o melhor. Isto é forró, este é demais, comunicação geral nos quatro pontos cardeais..."
Era sempre assim que começavam todas as manhãs de minha infância. E certamente de tantas outras crianças que, como eu, ouviam o Bom dia Nordeste, na Rádio Borborema.
Talvez tenha falhado ao lembrar do “jingle” ou dos anunciantes. Mas jamais poderia falhar em não aproveitar este espaço e cutucar a lembrança de outras crianças que como eu tiveram sua infância açucarada pela doçura de Zé Bezerra.
Lembrar de Zé Bezerra é sentir o cheiro do café quentinho, de minha mãe, Dona Mocinha, na cozinha, advertindo seus filhos para não perderem a hora da escola. É sentir o cheiro do pão assado na assadeira incensando a casa. É a lembrança do meu pai voltando de seu turno de 24h de trabalho, de seu cheiro explosivo de gasolina e cigarro misturados na roupa, uma mistura que acabou detonando sua vida cedo demais, mas isto é outra história.
Fecho os olhos e posso ouvir antigos hits de forró da época como o "Rock do Camelo" de Elino Julão: "com minha gata na garupa vou deixar gente maluca... dirigindo meu camelo... e o vento buliçoso, assanhando meu cabelo..." Quando ouvia esta música acreditava que Zé Bezerra tocava para mim e para o meu pai, porque tive coqueluche e quando meu pai chegava do trabalho me punha na bicicleta e saíamos pelas ruas para que eu recebesse o vento frio da manhã.
E quando tinha jogo do Galo? Quem nunca ouviu: "Galo dulo, dulo pra chuchu, quanto mais cozinha mas palece que tá clu..." Nesse cenário João Gonçalves cantarolava: “por isso ela só anda de longo, por isso ela só anda de longo, por isso ela só anda de longo, para esconder as varizes e ninguém ver os catombos...” se referindo à Dona Bela que eu jurava ser minha vizinha...”.
Na época, a “axé music” ainda não havia chegado por aqui, nossos cantores eram mais tocados, suas músicas tinham mais espaço. Elba Ramalho, ainda gasguita, declarava “eu fui feliz lá no Bodocongó, no meu barquinho de um remo só” . Era bem mais fácil ouvir Marinês cantar “todo mundo logo se sacode quando ver a bandinha passar, tocando coisas de amor, de amor, ai como é bom recordar.”
De fato, Marinês tinha razão. É muito bom recordar. São memórias singelas diretamente ligadas ao Bom Dia Nordeste, guardadas com carinho nos enconderijos do tempo. São meros flashes desbotados nos quais permanecem impressos o aconchego da minha família e aquele velho rádio Mototola amarelo que trazia Zé Bezerra pra nossa mesa no café-da-manhã, todos os dias.
Geneceuda Monteiro, 05 de outubro de 2012
Geneceuda querida!
ResponderExcluirInteressante estas lembranças que, ao mesmo tempo, homenageiam o Radialista Zé Bezerra.
Parabéns!
Lembrando que não era café Aurora e sim café São Braz.
ResponderExcluirTambém estamos querendo o áudio da abertura do programa com com João Gonçalves.
Também estamos querendo os Jingles comerciais e políticos cantados por Elino Julião
ResponderExcluircomo ouvir a musica de abertura do programa
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