terça-feira, 21 de junho de 2011

Doce caboclo

Com açúcar e muito afeto!

De fato - tanto na vida, quanto na natureza - cada ser é para o que nasce! Basta um breve olhar e logo se vê que não nasceram para outra coisa, nasceram para fazer e ser como são.

Um possui o tronco ereto e alto, sua espécie pode medir até quatro metros, com braços laterais afastados, descrevendo uma curva em direção ao Sol. É assim que a Ciência o descreve. Como todos de sua espécie têm alguns espinhos, mas faz brotar bonitas flores.

Seu companheiro quando se espalha não há quem o junte! Sua origem de curcubitáceo possui uma grande variedade de formas. No caso dele, sua forma de moringa é bem definida: cheia de suas mungangas, suas pinturas! A Ciência acrescenta que tais espécies crescem em solos rasos, sobre as fendas das rochas e também cobrem extensas áreas da vegetação semiárida.

Daí a natureza das coisas! É justamente na nossa aridez diária que eles nos são indispensáveis, imprescindíveis. Eles quebram nossas blindagens de pedra, minam nossas lembranças com suas meninices, aguam nossa alma com a pureza de suas travessuras e macaquices. Falo da natureza de Curcubita Pepo e Cereus Gounellei!

Duas espécies nordestinas de origens distintas, duas vegetações típicas da nossa terra. Pelos seus nomes, pareceria piada, se não estivesse falando tão sério. E, na verdade, é impossível olhá-los sem rir de suas diabruras tão angelicais. Que valha-me Deus pelo paradoxo!

É que Pepo e Cereus, de nomes científicos igualmente engraçados, e vulgarmente chamados de... representam o que há de mais puro quando nos debruçamos em observar os “pantins” do homem do mato. Suas caras e trejeitos reproduzem o humor e esperteza dos caboclos do sertão.

Sem muito esforço, até porque o matuto caricato não gosta de se esforçar, basta um olhar deles, uma presepada qualquer e são capazes de derreter e cativar o mais turrão dos corações.

Misturam em seus mais entranhados ramos Pedro Malazarte, Jeca Tatu, O gordo e o Magro, Tom & Jerry, Martin & Jerry Lewis e tantos outros. Reinventaram Chaplin em nosso tempo moderno e o melhor: o fizeram em dose dupla!

São uma graça no melhor sentido da palavra. São feito “Tumé” e “Bebé”. Feito “a corda e a caçamba” se completam. Dão “certim feito boca de bode”.

Assim, impariados, doce par nordestino, made in Paraíba que não “arripuna”. Doce de alegria e rapadura, doce feito de gente: de Jerimum e XiqueXique!


Por Geneceuda Monteiro, em 21 de junho de 2011.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

A degradação da mulher na música brasileira

Dedicado a Santana: o Cantador, Os Nonatos e Alcimar Monteiro grandes artistas defensores e construtores da boa música

"Tu és divina e graciosa, estátua majestosa do amor por Deus esculturada..." assim se refere Pixinguinha, na composição Rosa, exaltando a beleza feminina. O mesmo acontece em Boneca "Eu vi numa vitrine de cristal, no mais sublime pedestal, uma boneca encantadora..."

Foi-se o tempo em que a figura da mulher era cantada com tamanha ternura nas canções brasileiras. A verdade é que, ao longo dos anos, a mulher foi perdendo a imagem de santa, de rosa ou boneca, descritas nas inúmeras metáforas utilizadas para descrevê-la.

De Santa e Anjo a diabo, de Gatinha Manhosa - hit dos anos 60 - à Cachorra tão referendada nos bailes Funks, a imagem feminina foi perdendo moral dando espaço à vulgaridade presente nas composições - vide "Barraco III": "Me chama de cachorra, que eu faço au-au/Me chama de gatinha, que eu faço miau/Goza na cara, goza na boca/goza onde quiser". Um som, à época, muito tocado nas noites cariocas e cujo funqueiro compositor explicou que " o gozar na cara" trata-se de duplo sentido, só se for pra ele em achar que pode "gozar da cara" do público, mesmo assim o termo pede o uso correto da Preposição "DA".

Deixando a Gramática de lado, o fato é que além de cachorra, a mulher também foi chamada de Doida Demais, Condenada, Mentirosa, Cara de Cavalo, Rapariga, Ordinária, entre outros.

Até Caetano Veloso que cantou a sensualidade da mulher em Tigresa, a beleza em Você é Linda, cedeu à moda e gravou Não enche: "Vagaba, vampira, o velho esquema desmorona desta vez pra valer/tarada, mesquinha"...

De mais a mais, a mulher tem sido tratada como lixo musical. Em cada composição, a decomposição do mito feminino é cada vez mais aparente. E o lado intrigante do fato é observar a rapidez com que as gravadoras lançam novos hits no mercado e o quanto lucram com suas vendas.

Recentemente, Santana, o Cantador disse durante gravação de programa junino, em Campina Grande, que a mulher deve selecionar o tipo de música que escuta. Para ele a mulher deve escutar músicas que a enalteçam e não que destruam a sua moral. Viva Santana!

Entretanto, na contramão da mídia e da moda quem foi que mudou afinal? A mulher que perdeu o respeito por si? O homem? O tempo? Ou a indústria fonográfica brasileira?

Responda-me quem souber!


Geneceuda Monteiro

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A cor do som da borboleta

Não se sabe se é ave ou borboleta. Não se sabe se é Sandra Bonita ou Maria Belê. O que se sabe e pelo que se ouve é que quando ela canta é como se todas as quedas d'água bramissem juntas. É como se uma trovoada ecoasse para as bandas de Zabelê, pelas quebradas do Sertão.

E quando ela dança e pelo jeito que se move - feito ave - mexe os braços como quem ensaia um voo e avoa mesmo! Quando borboleta: gira suave, rodopia, ziguezagueia. Seus traços se esquivam, é como se escorregassem sorrateiros entre mandacarus, Xiquexiques e Jerimuns.

O seu pisoteado remete às pegadas dos cangaceiros pelas caatingas, percrustando o solo batido, buscando arrancar dele os mais polidos sons, as mais ricas rimas, o ritmo exato. Remete às andanças de Maria Bonita, à beleza e caboclice de mulher forte, resistente, trigueira.

Traz consigo todas as suas origens das quais se orgulha com carinho quando se descreve:
-“Nasci em Zabelê, uma cidade do interior da Paraíba. Lá vivi minha infância, minha adolescência e começo da minha fase adulta. Tudo que Zabelê me deu eu guardei na imaginação. As cantigas do Reisado, a voz do aboiador, o som do carro de boi, os banhos de açude, o som da sanfona do meu pai e o entrelaçar de linhas da minha mãe”.

Em seu novo CD, pulando entre um e outro verso redescobre suas origens, mergulha em sua infância e emerge trazendo os sons dos guizos dos Reisados, o colorido dos Pastoris.
De um salto a outro é Pastorinha! Mestra e Contra-Mestra, é Diana enlaçando dois Cordões. E num tecer incansável, pulando sílabas, brincando de amarelinha sobre os versos que evoca: a Borboleta rodopia, vira Cigana, depois Palhaço.

E assim, defendendo suas cores, quer seja Anjo ou Pastora é uma Estrela multifacetada. Em suas raízes há misturas diversas: são cocos e cantigas, aboios, benditos e forrós.
É uma borboleta brincante multicor. De cuja cor e de cujo som se extraiu a pura e total cristalização: ENCARNADOAZUL.

Esta é a cor do som de Sandra Belê! É a beleza de Zabelê expressa em um dos anagramas mais bem representados! É beleza pura, é Belêza rara!
Geneceuda Monteiro - 09 de maio de 2011