sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Quem lembra de Zé Bezerra?




"Bom dia Nordeste, bom dia Brasil. Pelo som da Borborema nesse céu azul anil, Zé Bezerra às suas ordens comandando o forró, liderança em audiência simplesmente o melhor. Isto é forró, este é demais, comunicação geral nos quatro pontos cardeais..."


"José Bezeeeeerra - Atenção ouvintes amigos, são 7h da manhã, hora de tomar o gostoso café Aurora e comer aquele cuscuz quentinho feito de Vitamilho..."

Era sempre assim que começavam todas as manhãs de minha infância. E certamente de tantas outras crianças que, como eu, ouviam o Bom dia Nordeste, na Rádio Borborema. 

Talvez tenha falhado ao lembrar do “jingle” ou dos anunciantes. Mas jamais poderia falhar em não aproveitar este espaço e cutucar a lembrança de outras crianças que como eu tiveram sua infância açucarada pela doçura de Zé Bezerra. 

Lembrar de Zé Bezerra é sentir o cheiro do café quentinho, de minha mãe, Dona Mocinha, na cozinha, advertindo seus filhos para não perderem a hora da escola. É sentir o cheiro do pão assado na assadeira incensando a casa. É a lembrança do meu pai voltando de seu turno de 24h de trabalho, de seu cheiro explosivo de gasolina e cigarro misturados na roupa, uma mistura que acabou detonando sua vida cedo demais, mas isto é outra história.

Fecho os olhos e posso ouvir antigos hits de forró da época como o "Rock do Camelo" de Elino Julão: "com minha gata na garupa vou deixar gente maluca... dirigindo meu camelo... e o vento buliçoso, assanhando meu cabelo..." Quando ouvia esta música acreditava que Zé Bezerra tocava para mim e para o meu pai, porque tive coqueluche e quando meu pai chegava do trabalho me punha na bicicleta e saíamos pelas ruas para que eu recebesse o vento frio da manhã.

E quando tinha jogo do Galo? Quem nunca ouviu: "Galo dulo, dulo pra chuchu, quanto mais cozinha mas palece que tá clu..."  Nesse cenário João Gonçalves cantarolava: “por isso ela só anda de longo, por isso ela só anda de longo, por isso ela só anda de longo, para esconder as varizes e ninguém ver os catombos...” se referindo à Dona Bela que eu jurava ser minha vizinha...”. 

Na época, a “axé music” ainda não havia chegado por aqui, nossos cantores eram mais tocados, suas músicas tinham mais espaço. Elba Ramalho, ainda gasguita, declarava  “eu fui feliz lá no Bodocongó, no meu barquinho de um remo só” . Era bem mais fácil ouvir Marinês cantar “todo mundo logo se sacode quando ver a bandinha passar, tocando coisas de amor, de amor, ai como é bom recordar.” 

De fato, Marinês tinha razão. É muito bom recordar. São memórias singelas diretamente ligadas ao Bom Dia Nordeste, guardadas com carinho nos enconderijos do tempo. São meros flashes desbotados nos quais permanecem impressos o aconchego da minha família e aquele velho rádio Mototola amarelo que trazia Zé Bezerra pra nossa mesa no café-da-manhã, todos os dias.

Geneceuda Monteiro, 05 de outubro de 2012


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Fire's Street 69


Nasci na Fire's Street, 69, Estação Velha. Uma ruazinha modesta de frente para o campinho de pelada. De minha janela via-se o aterro e lá adiante a velha Sambra . Tempos bons, aqueles.

Naquela época, a rua se dividia em duas. A parte de cima, das chamadas "casas de família", começava a partir da mercearia do Velho Otacílio, meu padrinho. A outra parte, fazia divisa com o Forró de Alcatrão – o doutor cirurgião dentista, como se auto-intitulava o fundador da saudosa Escola de Samba Noel Rosa . Essa fatia da rua era dedicada à boêmia. Daí o porquê do caloroso nome de Rua do Fogo.


Figuras elegantes de Campina Grande desciam à ruazinha para dançar ao som da radiola de fichas da “casa-de-recurso” de Arlete. E essa estória de casa-de-recurso ouvíamos dos vizinhos, nós não entendíamos o que o termo empregado àquela casa queria denunciar. Para nós era uma casa como outra qualquer, só que muito mais alegre. Lembro muitas vezes das carreiras ofegantes, rua à baixo, para brechar - através da fechadura - a famosa radiola de fichas. Saíamos às pressas ao simples som do tamanco de Dona Arlete. Aquela mulher esguia e muito elegante, cujos saltos altos e andar alheio às janelas, impunha-lhes um respeito silencioso.


Aquela parte da rua nos aguçava o interesse devido às proibições, todas vãs, que nos eram impostas. Era justamente naquela metade que a vida nos parecia inteira. Ali estavam todos os motivos que nos alegravam: a música, as luzes, os sequilhos, os refrescos da bodega de Pedro Oreinha, o forró de Zé Braz, o terreiro de Umbanda de Vicente Mariano, a barraca de Antonio do Caldo e muitos outros encantos para nossos olhos pueris. 

Vez por outra a Rádio Patrulha descia a rua, era a Rita Pavone, alarmando que alguém seria detido por embriaguez, desordem ou pelas famosas brigas de giletes. Era assim a rua da minha infância. Uma infância dividida com meus três irmãos e muitos moleques.  E por falar em moleques, logo me vem a mente um dos nossos grandes amigos: um negrinho sapeca feito saci, o "nêgo Welson", como o chamávamos carinhosamente. Welson tinha um riso franco, farto e cheio de diabruras escondidas em seus dentes fortes. Era impulsivo. Lembro quando ele ganhou Belém, o seu carnerinho.Belém parecia um chumaço de algodão, era uma coisa linda. E lá íamos todos nós correndo ladeira abaixo, seguindo aquele brinquedinho de carne e lã. De que Belém morreu não me recordo, mas nunca esqueci o choro convulsivo de Welson anunciando a perda de seu carneirinho.

Assim como Belém, naqueles tempos nossos animaizinhos de estimação eram muito originais. Eu tinha uma galinha gorda chamada “Mãe preta”, meu irmão tinha uma tartaruga que comia mamão e respondia pelo simples nome de “Caguim”, ele também tinha uma raposa de louça, comprada à prestação pela minha mãe. Tínhamos jogo-de-botão feito de osso, outro de quenga de côco, um pega-varetas e um vai-e-vem. 


Bicicleta nesse tempo era coisa rara, a gente não entendia  como Silvio Santos distribuía tantas, durante o Domingo no Parque. Havia quem dissesse que tudo era devolvido na saída do programa. Conversa de gente grande para nos conformar. Mas como disse Raul Seixas “Sonho que se sonha junto é real” e, de tanto sonharmos, o desejo se materializou: um de meus irmãos ganhou uma bicicleta. Uma linda Monark – azul grafite – nunca esqueci o nome daquela cor que nos enchia os olhos. E para buscar a bicicleta? Não tinha menos de dez crianças acompanhando meu pai e festejando a boa sorte de meu irmão. Ali a alegria era uma alergia compartilhada, mais tarde, a bicicleta também.


Era um mundozinho muito feliz aquele. Longe dos bytes, dos sites, dos games. Sem maiores anglicismos. Ali a vida acontecia em tempo real, tinha todas as cores e era moldada em carne e osso, chão e suor, circo e pão.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Maio em setembro



Era setembro, imaginei ser maio. O mês de Maria, das noivas, das noites de novenas. De lírios brancos, açucenas, cajados-de-São José, sorrisos-de-Maria e florzinhas outras, igualmente singelas.

Era dia, imaginei noite. Junto à parede da sala, a velha máquina de costura: coberta de branco, feita de altar para receber a Virgem Maria. Duas velas erguidas em pires, postas nas laterais, copos de vidro improvisando vasos evocando à reverência Mariana através do cheiro das rosas amélia.

Era presente, imaginei passado. Senhorinhas antigas brandando "A treze de Maio na cova da Íria, no céu aparece a Virgem Maria..." Interessante perceber como tais senhoras cantavam com um R e um U bem pronunciados e espremidos em ViURgem Maria... gostava de ouvir essa entonação. 

Era sério, imaginei ser graça. Chegada a hora das preces individuais, no qual todos faziam seus pedidos, uma senhora muito fidalga, Dona Creusa, sempre rogava à gentil Santa uma "graça em particular". As crianças gostaram de tal. Nesse momento, era capaz da novena não ter mais fim. Meninos e meninas de olhos fixos e 'ventas" acesas 'fungando' para fazer as velas flamejarem, davam início a uma sequência interminável de pedidos de 'graça em particular'. Era o momento de graça, literalmente.

Era simples, parecia especial. Havia quem não gostasse. Dona Conceição mesmo, certa feita, resmungou: "Que danado esses "menino" tem pra pedir tanta graça em particular", não sabia ela que na imaginação nossa, tal graça deveria ser muito especial aos nossos ouvidos, então porque não clamar à Virgem para recebê-las também?

Era a vida e parecia ficção. Paqueras inocentes pareciam amor eterno.Naquelas noites santíssimas, à sombra das graças de Maria, aquelas crianças e senhoras pareciam personagens de um conto qualquer, aquela vida comezinha parecia imagem, vagueia ainda no passado, traz à tona maio, mesmo sendo setembro.


Geneceuda Monteiro - 10 de Setembro de 2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012


TIRADINHA ROMÂNTICA ANTITABAGISTA 

A cigarra encantada vivia cantando,
conheceu o cigarro:
desencantou-se !

Meus poemas...


INSCRIÇÃO PARA A LÁPIDE DA PRIMAVERA
Poema premiado no I CONCURSO DE POESIAS AMIGOS DO LIVRO / FLIPOÇOS 2010

AQUI
JAZ
MIM
Geneceuda Monteiro

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O caminho do POETA

Homenagem ao Poeta Ronaldo Cunha Lima
em 07 de julho de 2012




O POETA fez de seus versos a luz
seu caminho o levou até Jesus
que haverá de recebê-lo alegremente.  
  
  

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos Namorados





Para meu namorado especial 
(Dedicado ao meu marido Flávio José - ser humano incrível que tem me ensinado grandes lições)

"Meu poeta eu hoje estou contente/
Todo mundo de repente ficou lindo/
Ficou lindo de morrer/
Eu hoje estou me rindo/
Nem eu mesma sei de que/
Porque eu recebi/
Uma cartinhazinha de você" 
( Vinícius de Moraes)


Porque você é muito especial e antes de mais nada

é meu doce companheiro,
que me torna uma pessoa melhor...


Porque em você minhas mãos encontram abrigo...
E meus olhos enxergam o amor e cuidados a mim devotados...

Porque você é muito especial e é quem escolhi para caminhar do meu lado...
Pra dividir o dia a dia, os risos, o pão...



Porque você é especial e faz tanta coisinha pra mim...
E tem paciência comigo, me escreve cartinhas...
e acorda cedo e me coloca sempre em primeiro lugar no seu dia.

Porque você é especial você me ensina o exercício da tolerância, 
do silêncio, da discrição, do bom humor...



Porque você é muito especial eu dedico a você esse dia
Eu comemoro com você a dádiva de ter alguém do meu lado
de construir os sonhos, de aprender o significado da aceitação mútua, da doação, da importância do ouvir.


Por tudo que você é e por você ser tão especial
quero dizer o quanto o admiro, o quanto me orgulho de você, o quanto me sinto feliz em ter você em minha vida!
Um beijo meu amorzinho lindo que eu amo!


Geneceuda Ferreira Monteiro de Almeida