segunda-feira, 30 de maio de 2011

VOCABODÁRIO


©Todos os direitos reservados - Geneceuda Monteiro

Minidicionário Bodês
Palavras & Expressões típicas do nosso falar regional

"Este presente trabalho
Passado pra suas mãos
É uma justa homenagem
A um dos símbolos do sertão
Um animal valoroso,
Resistente, legendário
Cuja influência exercida
Em nossa cultura lingüística
Virou um Vocabodário"
(Geneceuda Monteiro)
Apresentação
Vocabodário - é um minidicionário de palavras e expressões próprias do falar nordestino, que sofrem a influência direta da caprinovinocultura predominante na região.
Devido essa riqueza cultural, resolvemos catalogar esses verbetes, com a colaboração de alguns alunos de Cabaceiras, para registrar o universo bodístico cabaceirense, somando mais uma atividade cultural à Festa do Bode Rei.
O presente Vocabodário, concebido como uma proposta pedagógica, busca agregar valor à cultura local, através do reconhecimento e registro da linguagem popular como fonte de referência da identidade e história de nossa gente.

Palavras

acabrunhado – adj. triste, desanimado, desencorajado
bafo-de-bode – s.m. mau hálito comum a quem bebe muita cachaça, pop. catinga de boca
barba-de-bode – s.m. barbicha rala
barbicha – s.f. barba pequena e rala semelhante à barba de bode, pop. barba de adolescente
bé- onomatopéia , som emitido pelos caprinos em geral
berrador – s.m. aquele que berra
berrante¹ - s.m. que berra
berrante² - adj. cor forte, pop. cor cheguei!
berrante³ - instrumento de sopro, confeccionado de chifres, utilizado por boiadeiros para conduzir o gado
berrar¹ - v. emitir berros (os caprinos)
berrar² - v. gritar alto, rudemente
berregar – v. berrar muito alto, freqüentemente
berrego – s.m berros altos, gritos contínuos
berreiro – s.m. berros altos, gritaria, choro muito forte
berro¹ – s.m. som emitido pelos caprinos
berro² - grito alto de gente rude
boca-de-bode – adj. boca bem feita, cujos maxilares superior e inferior estão, devidamente, alinhados um sobre o outro.
bode – s.m. caprino em geral, macho da cabra
bodear - v.i. Ficar encolhido e sonolento; adormecer na farra; o mesmo que 'cair no sono'." (Dialeto Caririzeiro)
Colaboração do Poeta, professor e Reitor Eleito pela UEPB - Rangel Júnior
Bode Rei¹ – s.m. bode escolhido através de concurso para ser coroado como o rei durante a festa tradicional de Cabaceiras
Bode Rei² - s.m. nome da festa popular realizada, anualmente, no município de Cabaceiras, para enaltecer os valores da caprinovinocultura fortalecendo a economia local e o desenvolvimento turístico e cultural da região
bode rufiador – adj. diz-se do rufião
bodeado – adj. chateado, amolado
bode-azul – s.m. homem mulherengo, galã, gíria empregada, também, para o Especialista em Comunicação
bode-brabo – adj. homem bravo
bode-cabeludo – adj. homem de cabelo comprido, cabra-cabeludo, peludo
bode-cheiroso – adj. atribuído, ironicamente, a pessoas fedorentas
bode-chifrudo – adj. atribuído a homem chifrado pela mulher
bodeco – adj. pop. bode pequeno, homem pequeno
bode-desajeitado – adj. homem deselegante
bode-expiatório – s.m. pessoa sempre culpada
bode-feio – adj. pop. homem feio
bode-fuleira – adj. homem sem personalidade
bodeiro – s.m. criador ou matador de caprinos
bodejado – s.m. resmungo
bodejador – s.m. pop.diz-se do rufião
bodejar¹ – v.pop. gaguejar
bodejar² - v. pop. emitir galanteios libidinosos
bodejo – s.m. pop. emitir som para atrair as cabras
bode-malamanhado – adj. homem desarrumado, desmantelado
bode-môco – ajd. pop. diz-se daquela pessoa que escuta pouco
bode-preto – s.m. pop. diabo, o coisa ruim, o chifrudo
bode-rôco – s.m. pessoa de fala rouca
bode-rufião – s.m. pop. bode encarregado de atiçar as cabras “sem cobri-las” para identificar quais estão no cio, o facilitador
Bodês *³ - s.m. pop. neologismo cabaceirense, diz-se do vocabulário caprino, o vocabodês*4
bodesco*6 – adj. relativo à literatura lírico-bodística
bode-seboso – adj. pessoa suja, sem hábitos higiênicos
bodeto – s.m. pop. bode novo
bode-velho - s.m. pop. homem velho e enxerido, rapaz solteirão
bodiana*¹ – adj. neologismo cabaceirense para designar tudo que é relativo ao bode
bodinho¹ - s.m. diminutivo de bode, bode novo, cabrito
bodinho² – s.m. pop. nome dado aos carros populares: o antigo Jeep e, atualmente, o Fiat
bodinho³ - s.m. adolescente namorador na fase da puberdade
bodístico*² – adj. neologismo cabaceirense, diz-se de todo o universo caprino
bodódromo – s.m. praça onde se realiza a Festa do Bode Rei, em Cabaceiras

Bodódromo² - s.m. ponto de encontro dos apreciadores das delícias da culinária bodística localizado no bairro de José Pínheiro, em Campina Grande - PB.
bodum – s.m. fedor de bode não castrado, catinga
bolotinho-de-cabra – s.m. brincadeira infantil, mesmo que bostinha- de-cabra
bumba-meu-bode – s.m. grupo de dança e teatro que se apresenta pelas ruas de Cabaceiras durante a Festa do Bode Rei
caba – s.m. pop. variação de cabra, caba-ruim, caba-bom
cabra alegre - adj. pop. contente, feliz
cabra arretado – adj. pop. diz-se de um cabra bom
cabra arrochado - adj. pop. peitudo, valente, destemido
cabra besta – adj. pop. indivíduo vaidoso, metido a rico, orgulhoso
cabra bom – adj. pop. cidadão decente
cabra bonito - adj. pop. homem bonito, elegante
cabra caloteiro – s.m. pop. velhaco, aquele que não paga nem promessa a santo
cabra da peste - adj. pop. que designa coragem, valentia, disposição
cabra desenrolado - adj. pop. sujeito extrovertido, que sabe resolver tudo
cabra disposto - adj. pop. trabalhador, corajoso
cabra doido - adj. pop. inconseqüente, destemido
cabra enrolão - adj. pop. trapaceiro, desonesto
cabra fedorento - adj. pop. suado, mal cheiroso
cabra feio - adj. pop. mesmo que bode feio
cabra fraco - adj. pop. medroso, sem palavra
cabra fresco 2 - adj. pop.afeminado, viado, bicha
cabra fresco1 - adj. pop. sujeito dado às frescuras, cheio de etiquetas, importante, abusado
cabra frouxo – adj. pop. diz-se do medroso, indivíduo covarde
cabra gostoso - adj. pop. homem atraente, tesudo, sarado
cabra honesto - adj. pop. sujeito confiável
cabra irresponsável – adj. pop. diz-se de quem não tem responsabilidade
cabra leiteira - adj. pop. cabra boa de leite
cabra leso - adj. pop. abestalhado, bobalhão, displicente, desligado
cabra macho – adj. pop. corajoso, valente, forte
cabra mole – adj. pop. preguiçoso, sem iniciativa
cabra nervoso - adj. pop. homem nervoso, invocado
cabra nojento – adj. pop. indecente, sem bons modos, enxerido
cabra otário - adj. pop. babaca, bobo
cabra paciente - adj. pop. calmo, tranqüilo
cabra porreta - adj. pop. homem de palavra, cabra bom
cabra quente - adj. pop. fogoso
cabra ruim – adj. pop. diz-se de quem é mau
cabra sabido - adj. pop. inteligente, sabichão, bem informado
cabra sarado 1 - adj. pop. indivíduo esperto, astuto
cabra sarado 2 - adj. pop. cabra malhado, cujo abdômen é bem definido
cabra safado - adj. pop. homem de má índole
cabra simpático - adj. pop. homem simpático
cabra valente – adj. pop. o mesmo que cabra macho
cabra¹ – s.f. fêmea do bode, pop. mulher que grita muito, desavergonhada
cabra² - s.m. pop. homem do Nordeste, cangaceiro ou bandido
cabra³- adj. pop. pessoa de cor branca e cabelo ruim , filho de mão branca e pai negro, ou vice-versa.
cabra-cegas.f. brincadeira em que uma criança de olhos vendados tenta agarrar outra
cabrada – s.c. rebanho de cabras, bando de rapazes
cabra-de-chifre – s.m. Bras. AC.V cangaceiro
cabra-de-peia – s.m. Bras. 1.nomeação de indivíduo desclassificado, 2. Bras. N.E.V. valentão, 3. Bras. A .L.V capanga
cabra-mijão – s.m. aquele que mija na cama ou na rede até a fase adulta
cabra-mocha – s.f. cabra sem chifres, sem ponta
cabrão – s.m. pop.corno
cabra-onça – s.m. pop. valentão
cabra-seco - s.m. pop. valentão, forte, destemido
cabra-topetudo - s.m. pop. valentão
cabreiro¹ – s. m. pastor de cabras
cabreiro² – adj. desconfiado
cabril – s. m. curral de cabras
cabriola – s.f. salto de cabras
cabriolar – v. dar cabriolas
cabrita¹ – s.f. cabra pequena
cabrita² – s.f. mestiça ainda nova, menina-moça
cabritar¹ - v. saltar como os cabritos
cabritar² - v. se acovardar, fugir, escapar, pop. Cair fora.
cabritinho – s.m. pop. indivíduo muito moreno ou mulato
cabritismo – s.m. pop. agitação, sensualidade, libidinagem
cabrito¹- s.m. bode novo, pequeno
cabrito² - s.m. criança inquieta, menino danado
cabrochá - adj. pop.homem de baixa estatura
cabroeira – s.f. coletivo. diz-se de um bando de cabras ruins, ou cabras feios ou bandidos
cabrotar – v. fracassar, não sustentar a palavra empenhada
Cabruêra – s.f. nome de uma banda de música regional
capa-bode- s.m. planta da caatinga que serve para fazer vassoura
capro – s.m. o mesmo que bode
caprum - s.m. fedor característico dos caprinos
catimbode*7 – s.m . neologismo que designa uma espécie de despacho atribuído aos amigos e incentivadores da Festa do Bode Rei, Cabaceiras
chupa-cabra – s.m. apelido dado a um cabra muito feio
frei-bode – s.m. pop. diz-se de alguns protestantes
Mec-bode – s.m. sanduíche feito com hambúrguer de carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
mijo-de-ovelha – adj. pessoa imprestável
pai-de-chiqueiro – s.m. o reprodutor do rebanho
pé-de-bode – s.m. pop. apoio feito com as duas mãos para erguer alguém
pé-de-cabra - s.m. alavanca de ferro com uma das extremidades fendidas, pop. instrumento utilizado para arrombar portas
Pega do bode – s.f. brincadeira realizada durante a Gincana do Bode Rei em Cabaceiras
pinga-bode – s.f. bebida alcóolica à base de cachaça e leite de cabra
Pizza-bode – s.f . pizza recheada com carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
Vocabodário*5 – s.m. neologismo criado em 1999, pela professora, jornalista e pesquisadora Geneceuda Monteiro, especialmente, para designar o conjunto de palavras e expressões bodísticas compiladas durante trabalho pedagógico a ser publicado durante a Festa do Bode Rei, em Cabaceiras.
vocabodês*4 – s.m. diz-se do dialeto caprino
X-bode – s.m. sanduíche à base de carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
Xixi-de-cabra – s.m. licor refinado que não deixa bafo-de-bode
*¹ *² *³ neologismos criados pelo ex-prefeito de Cabaceiras Arnaldo Júnior Farias Dôso, à época.
*4 *5 * 6 neologismos criados por Geneceuda Monteiro, professora e jornalista
*7 neologismo criado pelo cartunista Fred Ozanan
Expressões populares

Amarrar o bode – ficar de mau humor

Cabrão sem jeito – tímido, desajeitado

Deu certo que só boca de bode! – diz-se de coisas exatas, que se encaixam com exatidão.

Dormir com as cabras – estar fedendo

Estar de bode amarrado – mal humorado

Êta cabra cheiroso – perfumado

Fazer bode – fazer mistério, esconder o jogo

Fulano é cabra - diz-de de quem é branco e tem o cabelo ruim

Isto vai dar bode! – vai acabar em confusão

Mente mais num dia do que a cabra caga em um ano – diz-se dos cabras mentirosos

Mijar que nem ovelha – diz-se do cabra mijão

Não vou segurar cabra pra bode mamar! – não facilitar as coisas para os outros, principalmente quando se trata de cabras preguiçosos ou oportunistas, o mesmo que “eu não vou criar galinha pra dar pintos a ninguém”

Olha só onde fui amarrar meu bode! – exprime a concordância com idéias malucas, se meter em confusão, entrar em famílias desajustadas, etc.

Parece um bode sujo – diz-se daquele que anoitece sujo.

Prendam suas cabritas que meu bode está solto! – expressão utilizada por pais de adolescentes em fase de namoro

Seu cabrito – menino atrevido ou desobediente

Sua cabrita – menina atrevida ou desobediente

Vou capar o bode! – expressão utilizada pelo pai, cuja filha foi desonrada por algum cabra safado

Zé Bodão – desajeitado, desarrumado

Ditados populares

"Beijo-te, bode, porque um dia hás de ser odre."
"Espirro de bode é sinal de chuva."

"Se bigode tivesse valor, bode não mijava o dele!"

" Se barba fosse respeito,bode não tinha chifre!"


"Rabo de ovelha, nem serve, nem remedeia!"

"Olho de cabra, miolo de bode!"

Vocabodário – 2a Edição
Criação e Edição – Geneceuda Monteiro
geneceuda.monteiro@gmail.com
83-9134-9075/83-8814-6576

Projeto Gráfico – Fred Ozanan
fredcg@terra.com.br , coverpb@terra.com.br

Colaboração:
Historiador George Gomes de Araújo
Depto. de Turismo e Comunicação Social

Tiragem: 5000 exemplares

Apoio:
Prefeitura Municipal de Cabaceiras -
EMEF Abdias Aires de Queiroz
Proeja – Programa de Educação de Jovens e Adultos

©Todos os direitos reservados - Geneceuda Monteiro

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Elino Julião: o fino da roça

"Toc-toc, tá, tá, tá, toc-toc, ta, tá, tá...". O "toc-toc" em questão é uma tentativa de reproduzir o som que brota das mãos ágeis do cantor Elino Julião, batucando em uma mesa enquanto conta sua história de sucesso. Assisti à cena em vídeo e, confesso, fiquei impressionada com a precisão rítmica do artista. Mal sabia que o cantor foi um dos seguidores de uma das escolas musicais mais apreciadas no Brasil: Jackson do Pandeiro. E no caso de Elino Julião, ele bebeu na própria fonte, pois foi o próprio Jackson quem o introduziu no mundo artístico - não só o integrando a sua banda, mas também organizando e gravando seu primeiro disco.

Desde então, o cantor norte-riograndense começou a colecionar uma sequência de sucessos inesquecíveis como: “Na sombra do Juazeiro”, “Xote do Motorista”, “Puxando fogo”, “O rock do camelo” entre outros. Há tempos que tentava localizar algum audio, ou registro visual sobre o cantor. E, outro dia, muito por acaso, esbarrei com André Julião e, a partir desse encontro, consegui reunir toda a obra do artista. Assim, uma coletânea chegou em minhas mãos, feito presente precioso, através do filho do cantor.

Disposta a revisitar a obra do artista, iniciei minha jornada pelo conteúdo rico preservado pela família e admiradores. Músicas pontilhadas pela simplicidade e espirituosidade do "homem do mato" - como foi definido e liberado pelos membros da ditadura após ser tachado de "subversivo" por causa da canção "O burro é quem dá duro". Engraçado é uma música tão singela como essa, ter dado um “bode” danado! Durante todo o vídeo, o artista segue enlaçando história e estórias de sua carreira, tecendo uma colcha de retalhos costurada pelo seu sorriso franco e pela agilidade de seu batuque.

Em "Eu quero outro rabo de jumento", uma música que retrata um caso verídico ocorrido quando Elino Julião era "meninote", temos um recorte bem característico de sua natureza cabocla. Ele consegue sublimar um fato ocorrido durante sua infância, protagonizado por um tal de Nascimento, em uma narrativa jocosa que põe em xeque o comportamento humano quando cristaliza sua reflexão em "Veja pessoal, que mau elemento/Não sei se o animal é ele ou o jumento". Bom demais!

Pois bem, assim prossegui nessa viagem mergulhada neste mundo “eliniano” descobrindo suas trilhas, suas sinuosidades, redescobrindo as delícias poéticas bem “empalavradas” impressas à sombra de sua história.

E por falar em história, Elino Julião deixou entre seus herdeiros Elino Julião Júnior, um jovem artista que está fazendo grande sucesso levando adiante a obra paterna. Não há nem como não comparar, porque se não bastasse cantar como o pai, a sua aparência e o seu sorriso são iguais em simpatia e espontaneidade. Dessa forma, sua arte, seu talento e sua vida decerto estarão preservados sob a frondosa sombra de um novo juazeiro que resiste para que a chama de sua memória se mantenha acesa.

E por falar em chama, vivamos cada dia, segundo Elino Julião: “O negócio é dançá e sapateá, no fim dá tudo certo”! É isso aí!


Por Geneceuda Monteiro – 27 de maio de 2011.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Conversa com verso...

"Sem motor o juízo eu acelero, Deus mastiga as estrofes que eu tempero..."
Nonato Neto


Há muito que tentava abordar Nonato Neto e Nonato Costa para entender a feitura dos versos durante o desenrolar de um festival de repente. Eram muitas as minhas dúvidas e pouco o nosso tempo disponível para resolvê-las. De sorte, que em uma de nossas recentes viagens me encorajei a abordar os poetas que, com muita boa vontade pedagógica, me descreveram o tal processo poético.

Primeiro, perguntei a Nonato Neto, como o seu cérebro percebe uma palavra. Queria entender - se assim como eu, tão logo "fisgo" a palavra ela vira notícia, - como era para o poeta que lhe chegava a percepção do verso. De acordo com Neto, quando ele absorve uma palavra, de imediato seu cérebro já começa a processar os versos. Imaginemos sua mente como uma perfeita e eficaz usina de letras, processando palavras, sons, rimas e no fim da linha de montagem brotando um verso pronto! Quase como um milagre, não fosse o esforço e trabalho desempenhado por sua mente brilhante. Minha curiosidade ia além, quanto mais o poeta abria seu arquivo de verso e suas habilidades diversas, mais perguntas eram maquinadas em minha mente.

Por exemplo: o que antecede um festival? Como os poetas se preparam? Estudam, lêem, preparam uma "burrinha" para evitar surpresas? E ei-lo mais uma vez: com toda sua singularidade me reponde que preparado de tudo ninguém vai. É preciso está atualizado, ler muito, assistir noticiários, enfim se inteirar das atualidades. Mas essa preparação prévia não garante nada não! Sorrimos juntos! Porque aí, compreendi melhor, seria quase como um vestibular de violas! A hora da famigerada redação, para qual o aluno se prepara sem saber se a temática que se preparou vai cair na hora da prova! Prova de fogo isso sim! Imagina o sujeito receber um tema para desenvolvê-lo no palco, literalmente de repente e ter que ao mesmo tempo interpretá-lo em versos, dedilhar a base de sustentação da viola para o seu parceiro, prestar atenção ao que ele, no caso Nonato Costa, está versejando, e enquanto isso tudo preparar seus versos para expressá-los em seguida! Ufa, é coisa de louco mesmo, para quem tem juízo! De quem é louco por palavras, de quem sabe domá-las, de quem sabe moldá-las e delas tirar-lhe a seiva!

Isso é coisa de Nonato Neto e Nonato Costa, dois grandes artífices do verso. Duas almas singulares e uníssonas.

E assim, acelerando o juízo sem motores, seguem os poetas de verso em popa! Mastigando letras, temperando estrofes e nos servindo sempre o melhor de si! Seguem realizados, completos simplesmente, porque o sonho de todo poeta é ser diverso!


Geneceuda Monteiro, 22 de maio de 2011.
geneceuda.monteiro@gmail.com



sexta-feira, 20 de maio de 2011

NA IMENSIDÃO DE TODAS AS COISAS...

“En tout les choses chercher la femme” ( do francês “Em todas as coisas procure a mulher”)
“um ser maravilhoso, entre a serpente e a estrela...” ("Zé Ramalho")

Na imensidão de todas as coisas está a mulher. Ela é um misto de razão e emoção, anjo e demônio, desdém e desejo. O seu amor quando não leva para o céu, leva para o inferno. É água e fogo consumindo-se um ao outro. É amor e ódio bebendo na mesma taça. É sangue e sal alimentando a vida! É um ser que preenche, mas não se deixa preencher. Salvo quando amada!

Quando um homem ama uma mulher ela se transforma em infinito e se deixa preencher... Homem nenhum é capaz de saber o que se passa no coração de uma mulher, muito menos o que se despe por trás de um olhar. A mulher é um ser jamais satisfeito, seu mundo transita entre o mundo etéreo dos sonhos e a crueldade real das horas. Ela tem os pés no chão e a cabeça nas nuvens. A mulher, como a água, habita o princípio de todas as coisas! Está na essência de tudo! Feito água compõe oceanos, molda rochas, quando gelo, fere fria! A mulher é fogo!

É luz e faca. Quando lâmpada ilumina com suavidade, reflete e planeja o ataque. Se faca, corta às cegas, impiedosamente. Há na mulher Psiquê e Afrodite disputando a mesma alma. Há sempre uma flor encravada nos cabelos de sua poesia. Haverá sempre um mistério preso ao seu sorriso, e nos olhos resquícios de algum amor pelo tempo fossilizado. Há um misto de força e fragilidade em suas mãos, um lampejo de dúvida nos seus passos, uma eterna carícia no seu peito, e isto, bem sabe aqueles que se deixaram repousar no aconchego de seus abraços.

A mulher carrega em si a luz de todas as constelações, em contrapartida, todas as fases da lua! Todos os signos do zodíaco! Quando lua, nunca chega, surge e linda e louca derrama sua luz para todos os campos. Se estrela, ilumina aqueles que na escuridão vivem ilhados. Quando água, refresca, move moinhos, remove montanhas em busca do que quer! Se fogo, aquece, crepita fagulhas de vida e sem pressa segue construindo seu mundo abrasador, cheio de emoções. Quando terra, recebe as sementes lançadas, fertiliza os sonhos, os transforma em flor e os distribui pela vida aflora! Mas quando vira ar, enche todos os ambientes, é impossível não percebê-la, impregna de perfume a natureza humana. Emana raios de alegria por todos os lugares.

A mulher contém a essência de todas as coisas! O homem não! A mulher é a grande causa! O homem, o efeito! Por ela se faz a guerra, por ela a guerra se acaba! Amar uma mulher é sempre um risco de vida e de morte: ou se vive por ela, ou se morre por ela.

(Geneceuda Monteiro)