quarta-feira, 26 de outubro de 2011

"Mini Goat Dictionary" - ("Minidicionário Bodês")

''Goatese'' a backlands language: a primer

Publicado pela Agência Brasil

20/07/2003 - 11h41

Cabaceiras (PB), 7/22/2003 (Agência Brasil - ABr) - In the sertão, the goat is a constant presence not only in people's lives, but also in the local language. In her "Mini Goat Dictionary" ("Minidicionário Bodês") Geneceuda Monteiro revealed the extent of backlands goat-talk. It runs the gamut from adjectives to metaphors, nouns to figurative speech. It is a vocabulary with as much flavor and taste as goat ribs - a local delicacy. Here is a sample (literal translations - when possible - are in parenthesis):

acabrunhado - adj. sad, discouraged
bafo-de-bode - noun. (goat's breath) - bad breath, a drunk's breath
barba-de-bode - noun. (goat's beard) - a thin, scraggly beard
bé- onomatopeia, the sound of a goat's baying
berrego - noun. (bay) sound a goat makes; loud, continuous screaming
boca-de-bode - adj.(goat's mouth) a well-formed mouth with upper and lower teeth in line .
bode - noun. male goat
Bode Rei¹ - noun. a goat elected king during traditional celebrations in Cabaceiras
bodeado - adj. get one's goat, irritated
bode desajeitado - adj. (awkward goat) a clumsy, awkward man
bode-expiatório - noun. scapegoat
bode-fuleira - adj. (worthless goat) a sloppy, inelegant man
bodejar - v. slang. stutter
bodejar - v. slang. say lewd things to pretty girls
bodejo - noun. slang. a sound used to attract female goats
bode-malamanhado - adj. (bad looking goat) a man who is sloven, carelessly dressed
bode-môco - adj. slang. (young goat) a person who does not pay attention, doesn't listen
bode velho - noun. slang. an old man who chases women, a young bachelor
cabra besta - adj. slang. (goat beast) a vain, conceited, arrogant person
cabra bom - adj. slang. (good goat) a decent citizen
cabra da peste - adj. slang. (goat of the pest) courageous, valiant, willing to do things
cabra desenrolado - adj. slang. (unrolled goat) not uptight, extroverted, knows how to do things
cabra fresco 2 - adj. slang. (fresh goat) gay, homosexual
cabra leso - adj. slang. (foolish goat) dumb, indifferent
cabra macho - adj. slang. courageous, valiant, strong
cabra-mijão - noun. (goat that urinates) bed-wetter or, in the backlands, hammock-wetter
cabra-onça - noun. slang. (wildcat goat) very valiant
cabra-seco - noun. slang. (dry goat) very valiant, strong, fearless
cabreiro² - adj. suspicious
cabrita - noun. (little female goat) very young girl
cabritismo - noun. (state of being a goat) bothered, sensual, lustful
cabroeira - noun. (herd of goats) bad, ugly goats; bandits
cabrotar - v. (to do as a goat) fail, break a promise, go back on one's word
frei-bode - noun. (monk goat) protestant
Mec-bode - noun. (Mac-Goat) a goat sandwich; very popular in Cabaceiras (PB)
pé-de-cabra - noun (goat foot) crowbar
pinga-bode - noun. (goat tequila) alcoholic drink of fermented sugarcane and goat milk
Xixi-de-cabra - noun. (goat pee) a fine liquor that does not cause bafo-de-bode

Slang expressions:

Amarrar o bode - (tie up the goat) be in a bad mood
Deu certo que só boca de bode! - (worked out like a goat's mouth) successful
Dormir com as cabras - (sleep with goats) smell horribly, stink
Fazer bode - (do the goat) be mysterious, secretive, hide one's intentions
Não vou segurar cabra pra bode mamar! - (I will not hold the female while the male suckles) refuse
to make things easy for someone else, especially someone who is shifty, untrustworthy
Prendam suas cabritas que meu bode está solto! - (tie up your female goats because my
macho goat is loose) fathers say this when kids start going out
Vou capar o bode! - (I'll castrate the goat) do what Heloisa's uncle did to Abelard
Zé Bodão - (Joe the Big Goat) messy, inelegant.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

OS NONATOS:VIDA,VERSO E VIOLA

O Vocabodário homenageia esses dois "cabras arretados" pelos seus 20 anos de carreira


A vida ávida de travessuras e sincronicidades uniu a dupla Os Nonatos. Um nascido na Paraíba, outro no Ceará. Mesmo nome, caminhos atravessados, histórias de vida parecidas. Sinas iguais.

Uns dizem que ambos têm o mesmo peso, há quem diga que eles têm a mesma altura. Fato que é contestado, imediatamente, por Nonato Costa. Muitos pensam que são irmãos. Não são. E são ao mesmo tempo! Apesar de não possuírem o mesmo tipo sanguíneo, apesar de nascidos de grupos genéticos distintos correm em suas veias o mesmo sangue artístico. Circula em suas entranhas as muitas vias dos versos, o mesmo suor poético, a mesma gênese da rima.

Eles trazem em si a completude das almas gêmeas, o ponto exato onde se encontram carne e unha, letra e canção. Eles se comunicam quase que por telepatia, estão conectados numa velocidade que ultrapassa os gigabytes, através da qual decodificam, simultaneamente, todos os pensamentos compartilhados. Basta um olhar, nenhuma palavra, um leve franzir de cenho é a senha: Nonato Neto sabe, exatamente, o que Nonato Costa quer dizer.

A simplicidade de seus modos se coadunam, sem conflitos, ao requinte de suas composições. São poetas arrojados, modernos, plugados em seu tempo e barrocos por competência. Trocadilhos, inversões, metáforas e paradoxos adornam suas canções. Dos longínquos sítios de suas memórias até os sites virtuais servem de matéria prima para sua diversidade musical. Nesse sentido, cada acorde de suas violas reproduzem bits uníssonos, gerando bytes que vibram numa escala musical dedilhada pela mesma harmonia de seus autores. São os poetas barrocos mais modernos da atualidade!

Com 20 anos de carreira, Nonato Neto e Nonato Costa representam o que há de melhor no mercado musical. Para se ter uma ideia, em carta enviada a dupla, o cantor e ator Jackson Antunes relata que “Os Nonatos além de sinônimo de qualidade, virou uma grife. Eu os procurei, para falar da minha admiração, do fã convicto que sou da dupla, que considero como Roberto e Erasmo, no campo das canções românticas, e que nos levam a sublimes sensações”. É assim que os "doutores do amor" atuam trazendo à tona e fazendo aflorar - à luz da palavra - os mais diversos sentimentos.

A dupla conquistou a amizade e admiração de alguns grandes artistas. Chico Anísio,Sérgio Reis,Tom Cavalcante, Shaolin, Oscar Niemeyer, Mateus Nachtergaele, Moacir Franco, entre outros, representam a força envolvente do talento dos Nonatos. Mais recentemente, a dupla Cesar Menotti e Fabiano lançou "Sem céu e sem chão", sucesso de autoria dos Nonatos. O lançamento foi anunciado via Twitter. Durante as postagens, Fabiano declarou que era fã do trabalho da dupla "Sou fã do trabalho de vcs. Fico feliz que tenham gostado. Abraço", declarou o cantor.

A exemplo de "Sem céu e sem chão" outras canções dos Nonatos já foram gravadas por Flávio José, Vicente Nery, Sirano e Sirino, Amazan, Tom Oliveira, Valdonys e por mais de 35 bandas como Mastruz com Leite, Cheiro de Menina, Caviar com Rapadura, Saia Rodada, Cavaleiros do Forró, Garota Safada, Forró do Muído e Aviões do Forró.

Além da carreira musical, a dupla divide o palco na apresentação do Programa Cantos&Contos. O programa é levado ao ar pelo Sistema Correio de Televisão e veiculado em toda a Paraíba. Assim, com a difusão na mídia e a ampliação das redes sociais o trabalho da dupla tem ganhado mais corpo, porque alma e coração eles têm de sobra. Isto bem sabe quem os acompanha na vida e na arte!

Os poetas seguem serenos, traçando sua caminhada com muita propriedade, muita seriedade e, acima de tudo, com muito respeito pelo público que os admira.

São artistas incontestes. São a síntese do mais polido verso. Essência de vida conjugada no ponteio da viola, extrato de rima rica, rima cara. Unidos pelo verso, rima rara.
Une-verso, coração!





Por: Geneceuda Monteiro
geneceuda.monteiro@gmail.com

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O jardim, o beija-flor e a dama...

Para minha mãe, presente pelos seus 74 anos, um breve episódio de seu jardim
"SEM SER DAMA DE CHALÉ
NEM PALÁCIOS, NEM PROGRAMAS, 
A DAMA DA NOITE É... 
A MAIS BONITA DAS DAMAS" 
(Nonato Costa)

Lavandas azuis, violetas, rosas, buninas, bugaris, maravilhas, jasmins,
mirras, laranjeiras, alecrins. Festa no jardim! Boa-noites, beneditas, copeiras, cravinas, pampoulas coloridas, amoras, aromas do jardim!

Beija-flores cintilantes, cibitos e pardais, borboletas, marimbondos abelhudos, abelhinhas,bem-te-vis! Quando o dia apaga o sol, acorda a noite e acende a lua: à espreita a dama se prepara, se enfeita, se insinua. Bem vestida, pura organza, linho fino, de cambraia, mas parece organdi, alva renda, fina saia. Sai bonita e perfumada, quem não viu perdeu de vista, só se mostra quando quer, é
tão linda a egoísta! Aparece e vai embora, já chegou raiando o dia, disputando com a aurora... 

 E quando o jardim se acorda e lá do céu o sol irradia, se fecha a dama-da-noite, vai dormir durante o dia. Na roseira, a aranha tece a teia bordada de miçangas cristalinas, gotas de sol. 

É festa no jardim! Pelo chão restam retalhos, finas pétalas descoradas, as vestes amarrotadas registram o acontecido... Conta-se que a dama-da-noite, ao beijo morno do dia: despetalou-se. 

  PS: As fotos são de autoria e flagrante de minha mãe, Dona Mocinha, durante suas andanças no jardim. Por: Geneceuda Monteiro, em 04 de agosto de 2011.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O arraiá da Cultura no raiar da Itararé

"Vem de perto, vem de longe, vem de carro e vem a pé... todo mundo está chegando pro arraial Itararé..." (Antonio Barros & Cecéu)

No furunfiado da sanfona, sob a grande latada no topo da Borborema, despontou novo arraial. De lá, daquele horizonte popular os zabumbas anunciaram a chegança.

Estrelas de todas as cores e grandezas por lá passaram e como novos tropeiros, em suas andanças, beberam daquela fonte e lá deixaram dependuradas -junto às bandeirolas - seus sorrisos e canções.

Vieram de perto e de longe, uns de carro outros a pé e nesse "vou de qualquer jeito" ficou muito bem esclarecido que os fins realmente justificam os meios. Todos quiseram ir. Todos foram ouvir, dançar e cantar com Santana, com Alcimar Monteiro, Genival Lacerda, Edglei Miguel,Antonio Barros e Cecéu, Maíra, Pinto do Acordeom, Zé Calixto, Amazan,Capilé, Os Três do Nordeste, Forró Gente Boa e Pra Gente Bem não faltou!

Pelo que se viu foi um desfile! A Cultura botou seus tamancos de salto e entrou na passarela no seu melhor estilo! Vestida de chita e algodão colorido! Bem nutrida à base de pão de queijo e rapadura, doce de Xiquexique e Jerimum! Uma lindeza para os olhos de quem viu! E o melhor: surgiu muito despretensiosa, mas deu Ibope! Uma BELÊza por assim dizer!

Também, chegou trazida pelas mãos de idealizadores visionários e, ainda por cima, amparada por um séquito de mais de 30 profissionais bem orquestrados por uma produção e direção artística audaciosa! Tinha que fazer bonito mermo! E fez!

Seduziu aos vivos e aos Santos! De telespectadores a internautas: tantos caíram em sua graça! Plantou naquela latada a sua raiz. Foi como “um sem querer querendo” abriu sua bandeira e fixou nas mais altas antenas, no horizonte Itararé, de onde se ver ao longe a tremular satisfeita.

Raiou naquele arraiá! E pelo que se sabe, pelo que se viu: tem muita história ainda pra contar e muita passarela a sua frente. Fez daquela latada seu palácio! De onde há de reinar por muitos anos e de onde há de casá e batizá!


Geneceuda Monteiro, 02 de junho de 2011


terça-feira, 21 de junho de 2011

Doce caboclo

Com açúcar e muito afeto!

De fato - tanto na vida, quanto na natureza - cada ser é para o que nasce! Basta um breve olhar e logo se vê que não nasceram para outra coisa, nasceram para fazer e ser como são.

Um possui o tronco ereto e alto, sua espécie pode medir até quatro metros, com braços laterais afastados, descrevendo uma curva em direção ao Sol. É assim que a Ciência o descreve. Como todos de sua espécie têm alguns espinhos, mas faz brotar bonitas flores.

Seu companheiro quando se espalha não há quem o junte! Sua origem de curcubitáceo possui uma grande variedade de formas. No caso dele, sua forma de moringa é bem definida: cheia de suas mungangas, suas pinturas! A Ciência acrescenta que tais espécies crescem em solos rasos, sobre as fendas das rochas e também cobrem extensas áreas da vegetação semiárida.

Daí a natureza das coisas! É justamente na nossa aridez diária que eles nos são indispensáveis, imprescindíveis. Eles quebram nossas blindagens de pedra, minam nossas lembranças com suas meninices, aguam nossa alma com a pureza de suas travessuras e macaquices. Falo da natureza de Curcubita Pepo e Cereus Gounellei!

Duas espécies nordestinas de origens distintas, duas vegetações típicas da nossa terra. Pelos seus nomes, pareceria piada, se não estivesse falando tão sério. E, na verdade, é impossível olhá-los sem rir de suas diabruras tão angelicais. Que valha-me Deus pelo paradoxo!

É que Pepo e Cereus, de nomes científicos igualmente engraçados, e vulgarmente chamados de... representam o que há de mais puro quando nos debruçamos em observar os “pantins” do homem do mato. Suas caras e trejeitos reproduzem o humor e esperteza dos caboclos do sertão.

Sem muito esforço, até porque o matuto caricato não gosta de se esforçar, basta um olhar deles, uma presepada qualquer e são capazes de derreter e cativar o mais turrão dos corações.

Misturam em seus mais entranhados ramos Pedro Malazarte, Jeca Tatu, O gordo e o Magro, Tom & Jerry, Martin & Jerry Lewis e tantos outros. Reinventaram Chaplin em nosso tempo moderno e o melhor: o fizeram em dose dupla!

São uma graça no melhor sentido da palavra. São feito “Tumé” e “Bebé”. Feito “a corda e a caçamba” se completam. Dão “certim feito boca de bode”.

Assim, impariados, doce par nordestino, made in Paraíba que não “arripuna”. Doce de alegria e rapadura, doce feito de gente: de Jerimum e XiqueXique!


Por Geneceuda Monteiro, em 21 de junho de 2011.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

A degradação da mulher na música brasileira

Dedicado a Santana: o Cantador, Os Nonatos e Alcimar Monteiro grandes artistas defensores e construtores da boa música

"Tu és divina e graciosa, estátua majestosa do amor por Deus esculturada..." assim se refere Pixinguinha, na composição Rosa, exaltando a beleza feminina. O mesmo acontece em Boneca "Eu vi numa vitrine de cristal, no mais sublime pedestal, uma boneca encantadora..."

Foi-se o tempo em que a figura da mulher era cantada com tamanha ternura nas canções brasileiras. A verdade é que, ao longo dos anos, a mulher foi perdendo a imagem de santa, de rosa ou boneca, descritas nas inúmeras metáforas utilizadas para descrevê-la.

De Santa e Anjo a diabo, de Gatinha Manhosa - hit dos anos 60 - à Cachorra tão referendada nos bailes Funks, a imagem feminina foi perdendo moral dando espaço à vulgaridade presente nas composições - vide "Barraco III": "Me chama de cachorra, que eu faço au-au/Me chama de gatinha, que eu faço miau/Goza na cara, goza na boca/goza onde quiser". Um som, à época, muito tocado nas noites cariocas e cujo funqueiro compositor explicou que " o gozar na cara" trata-se de duplo sentido, só se for pra ele em achar que pode "gozar da cara" do público, mesmo assim o termo pede o uso correto da Preposição "DA".

Deixando a Gramática de lado, o fato é que além de cachorra, a mulher também foi chamada de Doida Demais, Condenada, Mentirosa, Cara de Cavalo, Rapariga, Ordinária, entre outros.

Até Caetano Veloso que cantou a sensualidade da mulher em Tigresa, a beleza em Você é Linda, cedeu à moda e gravou Não enche: "Vagaba, vampira, o velho esquema desmorona desta vez pra valer/tarada, mesquinha"...

De mais a mais, a mulher tem sido tratada como lixo musical. Em cada composição, a decomposição do mito feminino é cada vez mais aparente. E o lado intrigante do fato é observar a rapidez com que as gravadoras lançam novos hits no mercado e o quanto lucram com suas vendas.

Recentemente, Santana, o Cantador disse durante gravação de programa junino, em Campina Grande, que a mulher deve selecionar o tipo de música que escuta. Para ele a mulher deve escutar músicas que a enalteçam e não que destruam a sua moral. Viva Santana!

Entretanto, na contramão da mídia e da moda quem foi que mudou afinal? A mulher que perdeu o respeito por si? O homem? O tempo? Ou a indústria fonográfica brasileira?

Responda-me quem souber!


Geneceuda Monteiro

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A cor do som da borboleta

Não se sabe se é ave ou borboleta. Não se sabe se é Sandra Bonita ou Maria Belê. O que se sabe e pelo que se ouve é que quando ela canta é como se todas as quedas d'água bramissem juntas. É como se uma trovoada ecoasse para as bandas de Zabelê, pelas quebradas do Sertão.

E quando ela dança e pelo jeito que se move - feito ave - mexe os braços como quem ensaia um voo e avoa mesmo! Quando borboleta: gira suave, rodopia, ziguezagueia. Seus traços se esquivam, é como se escorregassem sorrateiros entre mandacarus, Xiquexiques e Jerimuns.

O seu pisoteado remete às pegadas dos cangaceiros pelas caatingas, percrustando o solo batido, buscando arrancar dele os mais polidos sons, as mais ricas rimas, o ritmo exato. Remete às andanças de Maria Bonita, à beleza e caboclice de mulher forte, resistente, trigueira.

Traz consigo todas as suas origens das quais se orgulha com carinho quando se descreve:
-“Nasci em Zabelê, uma cidade do interior da Paraíba. Lá vivi minha infância, minha adolescência e começo da minha fase adulta. Tudo que Zabelê me deu eu guardei na imaginação. As cantigas do Reisado, a voz do aboiador, o som do carro de boi, os banhos de açude, o som da sanfona do meu pai e o entrelaçar de linhas da minha mãe”.

Em seu novo CD, pulando entre um e outro verso redescobre suas origens, mergulha em sua infância e emerge trazendo os sons dos guizos dos Reisados, o colorido dos Pastoris.
De um salto a outro é Pastorinha! Mestra e Contra-Mestra, é Diana enlaçando dois Cordões. E num tecer incansável, pulando sílabas, brincando de amarelinha sobre os versos que evoca: a Borboleta rodopia, vira Cigana, depois Palhaço.

E assim, defendendo suas cores, quer seja Anjo ou Pastora é uma Estrela multifacetada. Em suas raízes há misturas diversas: são cocos e cantigas, aboios, benditos e forrós.
É uma borboleta brincante multicor. De cuja cor e de cujo som se extraiu a pura e total cristalização: ENCARNADOAZUL.

Esta é a cor do som de Sandra Belê! É a beleza de Zabelê expressa em um dos anagramas mais bem representados! É beleza pura, é Belêza rara!
Geneceuda Monteiro - 09 de maio de 2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

VOCABODÁRIO


©Todos os direitos reservados - Geneceuda Monteiro

Minidicionário Bodês
Palavras & Expressões típicas do nosso falar regional

"Este presente trabalho
Passado pra suas mãos
É uma justa homenagem
A um dos símbolos do sertão
Um animal valoroso,
Resistente, legendário
Cuja influência exercida
Em nossa cultura lingüística
Virou um Vocabodário"
(Geneceuda Monteiro)
Apresentação
Vocabodário - é um minidicionário de palavras e expressões próprias do falar nordestino, que sofrem a influência direta da caprinovinocultura predominante na região.
Devido essa riqueza cultural, resolvemos catalogar esses verbetes, com a colaboração de alguns alunos de Cabaceiras, para registrar o universo bodístico cabaceirense, somando mais uma atividade cultural à Festa do Bode Rei.
O presente Vocabodário, concebido como uma proposta pedagógica, busca agregar valor à cultura local, através do reconhecimento e registro da linguagem popular como fonte de referência da identidade e história de nossa gente.

Palavras

acabrunhado – adj. triste, desanimado, desencorajado
bafo-de-bode – s.m. mau hálito comum a quem bebe muita cachaça, pop. catinga de boca
barba-de-bode – s.m. barbicha rala
barbicha – s.f. barba pequena e rala semelhante à barba de bode, pop. barba de adolescente
bé- onomatopéia , som emitido pelos caprinos em geral
berrador – s.m. aquele que berra
berrante¹ - s.m. que berra
berrante² - adj. cor forte, pop. cor cheguei!
berrante³ - instrumento de sopro, confeccionado de chifres, utilizado por boiadeiros para conduzir o gado
berrar¹ - v. emitir berros (os caprinos)
berrar² - v. gritar alto, rudemente
berregar – v. berrar muito alto, freqüentemente
berrego – s.m berros altos, gritos contínuos
berreiro – s.m. berros altos, gritaria, choro muito forte
berro¹ – s.m. som emitido pelos caprinos
berro² - grito alto de gente rude
boca-de-bode – adj. boca bem feita, cujos maxilares superior e inferior estão, devidamente, alinhados um sobre o outro.
bode – s.m. caprino em geral, macho da cabra
bodear - v.i. Ficar encolhido e sonolento; adormecer na farra; o mesmo que 'cair no sono'." (Dialeto Caririzeiro)
Colaboração do Poeta, professor e Reitor Eleito pela UEPB - Rangel Júnior
Bode Rei¹ – s.m. bode escolhido através de concurso para ser coroado como o rei durante a festa tradicional de Cabaceiras
Bode Rei² - s.m. nome da festa popular realizada, anualmente, no município de Cabaceiras, para enaltecer os valores da caprinovinocultura fortalecendo a economia local e o desenvolvimento turístico e cultural da região
bode rufiador – adj. diz-se do rufião
bodeado – adj. chateado, amolado
bode-azul – s.m. homem mulherengo, galã, gíria empregada, também, para o Especialista em Comunicação
bode-brabo – adj. homem bravo
bode-cabeludo – adj. homem de cabelo comprido, cabra-cabeludo, peludo
bode-cheiroso – adj. atribuído, ironicamente, a pessoas fedorentas
bode-chifrudo – adj. atribuído a homem chifrado pela mulher
bodeco – adj. pop. bode pequeno, homem pequeno
bode-desajeitado – adj. homem deselegante
bode-expiatório – s.m. pessoa sempre culpada
bode-feio – adj. pop. homem feio
bode-fuleira – adj. homem sem personalidade
bodeiro – s.m. criador ou matador de caprinos
bodejado – s.m. resmungo
bodejador – s.m. pop.diz-se do rufião
bodejar¹ – v.pop. gaguejar
bodejar² - v. pop. emitir galanteios libidinosos
bodejo – s.m. pop. emitir som para atrair as cabras
bode-malamanhado – adj. homem desarrumado, desmantelado
bode-môco – ajd. pop. diz-se daquela pessoa que escuta pouco
bode-preto – s.m. pop. diabo, o coisa ruim, o chifrudo
bode-rôco – s.m. pessoa de fala rouca
bode-rufião – s.m. pop. bode encarregado de atiçar as cabras “sem cobri-las” para identificar quais estão no cio, o facilitador
Bodês *³ - s.m. pop. neologismo cabaceirense, diz-se do vocabulário caprino, o vocabodês*4
bodesco*6 – adj. relativo à literatura lírico-bodística
bode-seboso – adj. pessoa suja, sem hábitos higiênicos
bodeto – s.m. pop. bode novo
bode-velho - s.m. pop. homem velho e enxerido, rapaz solteirão
bodiana*¹ – adj. neologismo cabaceirense para designar tudo que é relativo ao bode
bodinho¹ - s.m. diminutivo de bode, bode novo, cabrito
bodinho² – s.m. pop. nome dado aos carros populares: o antigo Jeep e, atualmente, o Fiat
bodinho³ - s.m. adolescente namorador na fase da puberdade
bodístico*² – adj. neologismo cabaceirense, diz-se de todo o universo caprino
bodódromo – s.m. praça onde se realiza a Festa do Bode Rei, em Cabaceiras

Bodódromo² - s.m. ponto de encontro dos apreciadores das delícias da culinária bodística localizado no bairro de José Pínheiro, em Campina Grande - PB.
bodum – s.m. fedor de bode não castrado, catinga
bolotinho-de-cabra – s.m. brincadeira infantil, mesmo que bostinha- de-cabra
bumba-meu-bode – s.m. grupo de dança e teatro que se apresenta pelas ruas de Cabaceiras durante a Festa do Bode Rei
caba – s.m. pop. variação de cabra, caba-ruim, caba-bom
cabra alegre - adj. pop. contente, feliz
cabra arretado – adj. pop. diz-se de um cabra bom
cabra arrochado - adj. pop. peitudo, valente, destemido
cabra besta – adj. pop. indivíduo vaidoso, metido a rico, orgulhoso
cabra bom – adj. pop. cidadão decente
cabra bonito - adj. pop. homem bonito, elegante
cabra caloteiro – s.m. pop. velhaco, aquele que não paga nem promessa a santo
cabra da peste - adj. pop. que designa coragem, valentia, disposição
cabra desenrolado - adj. pop. sujeito extrovertido, que sabe resolver tudo
cabra disposto - adj. pop. trabalhador, corajoso
cabra doido - adj. pop. inconseqüente, destemido
cabra enrolão - adj. pop. trapaceiro, desonesto
cabra fedorento - adj. pop. suado, mal cheiroso
cabra feio - adj. pop. mesmo que bode feio
cabra fraco - adj. pop. medroso, sem palavra
cabra fresco 2 - adj. pop.afeminado, viado, bicha
cabra fresco1 - adj. pop. sujeito dado às frescuras, cheio de etiquetas, importante, abusado
cabra frouxo – adj. pop. diz-se do medroso, indivíduo covarde
cabra gostoso - adj. pop. homem atraente, tesudo, sarado
cabra honesto - adj. pop. sujeito confiável
cabra irresponsável – adj. pop. diz-se de quem não tem responsabilidade
cabra leiteira - adj. pop. cabra boa de leite
cabra leso - adj. pop. abestalhado, bobalhão, displicente, desligado
cabra macho – adj. pop. corajoso, valente, forte
cabra mole – adj. pop. preguiçoso, sem iniciativa
cabra nervoso - adj. pop. homem nervoso, invocado
cabra nojento – adj. pop. indecente, sem bons modos, enxerido
cabra otário - adj. pop. babaca, bobo
cabra paciente - adj. pop. calmo, tranqüilo
cabra porreta - adj. pop. homem de palavra, cabra bom
cabra quente - adj. pop. fogoso
cabra ruim – adj. pop. diz-se de quem é mau
cabra sabido - adj. pop. inteligente, sabichão, bem informado
cabra sarado 1 - adj. pop. indivíduo esperto, astuto
cabra sarado 2 - adj. pop. cabra malhado, cujo abdômen é bem definido
cabra safado - adj. pop. homem de má índole
cabra simpático - adj. pop. homem simpático
cabra valente – adj. pop. o mesmo que cabra macho
cabra¹ – s.f. fêmea do bode, pop. mulher que grita muito, desavergonhada
cabra² - s.m. pop. homem do Nordeste, cangaceiro ou bandido
cabra³- adj. pop. pessoa de cor branca e cabelo ruim , filho de mão branca e pai negro, ou vice-versa.
cabra-cegas.f. brincadeira em que uma criança de olhos vendados tenta agarrar outra
cabrada – s.c. rebanho de cabras, bando de rapazes
cabra-de-chifre – s.m. Bras. AC.V cangaceiro
cabra-de-peia – s.m. Bras. 1.nomeação de indivíduo desclassificado, 2. Bras. N.E.V. valentão, 3. Bras. A .L.V capanga
cabra-mijão – s.m. aquele que mija na cama ou na rede até a fase adulta
cabra-mocha – s.f. cabra sem chifres, sem ponta
cabrão – s.m. pop.corno
cabra-onça – s.m. pop. valentão
cabra-seco - s.m. pop. valentão, forte, destemido
cabra-topetudo - s.m. pop. valentão
cabreiro¹ – s. m. pastor de cabras
cabreiro² – adj. desconfiado
cabril – s. m. curral de cabras
cabriola – s.f. salto de cabras
cabriolar – v. dar cabriolas
cabrita¹ – s.f. cabra pequena
cabrita² – s.f. mestiça ainda nova, menina-moça
cabritar¹ - v. saltar como os cabritos
cabritar² - v. se acovardar, fugir, escapar, pop. Cair fora.
cabritinho – s.m. pop. indivíduo muito moreno ou mulato
cabritismo – s.m. pop. agitação, sensualidade, libidinagem
cabrito¹- s.m. bode novo, pequeno
cabrito² - s.m. criança inquieta, menino danado
cabrochá - adj. pop.homem de baixa estatura
cabroeira – s.f. coletivo. diz-se de um bando de cabras ruins, ou cabras feios ou bandidos
cabrotar – v. fracassar, não sustentar a palavra empenhada
Cabruêra – s.f. nome de uma banda de música regional
capa-bode- s.m. planta da caatinga que serve para fazer vassoura
capro – s.m. o mesmo que bode
caprum - s.m. fedor característico dos caprinos
catimbode*7 – s.m . neologismo que designa uma espécie de despacho atribuído aos amigos e incentivadores da Festa do Bode Rei, Cabaceiras
chupa-cabra – s.m. apelido dado a um cabra muito feio
frei-bode – s.m. pop. diz-se de alguns protestantes
Mec-bode – s.m. sanduíche feito com hambúrguer de carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
mijo-de-ovelha – adj. pessoa imprestável
pai-de-chiqueiro – s.m. o reprodutor do rebanho
pé-de-bode – s.m. pop. apoio feito com as duas mãos para erguer alguém
pé-de-cabra - s.m. alavanca de ferro com uma das extremidades fendidas, pop. instrumento utilizado para arrombar portas
Pega do bode – s.f. brincadeira realizada durante a Gincana do Bode Rei em Cabaceiras
pinga-bode – s.f. bebida alcóolica à base de cachaça e leite de cabra
Pizza-bode – s.f . pizza recheada com carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
Vocabodário*5 – s.m. neologismo criado em 1999, pela professora, jornalista e pesquisadora Geneceuda Monteiro, especialmente, para designar o conjunto de palavras e expressões bodísticas compiladas durante trabalho pedagógico a ser publicado durante a Festa do Bode Rei, em Cabaceiras.
vocabodês*4 – s.m. diz-se do dialeto caprino
X-bode – s.m. sanduíche à base de carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
Xixi-de-cabra – s.m. licor refinado que não deixa bafo-de-bode
*¹ *² *³ neologismos criados pelo ex-prefeito de Cabaceiras Arnaldo Júnior Farias Dôso, à época.
*4 *5 * 6 neologismos criados por Geneceuda Monteiro, professora e jornalista
*7 neologismo criado pelo cartunista Fred Ozanan
Expressões populares

Amarrar o bode – ficar de mau humor

Cabrão sem jeito – tímido, desajeitado

Deu certo que só boca de bode! – diz-se de coisas exatas, que se encaixam com exatidão.

Dormir com as cabras – estar fedendo

Estar de bode amarrado – mal humorado

Êta cabra cheiroso – perfumado

Fazer bode – fazer mistério, esconder o jogo

Fulano é cabra - diz-de de quem é branco e tem o cabelo ruim

Isto vai dar bode! – vai acabar em confusão

Mente mais num dia do que a cabra caga em um ano – diz-se dos cabras mentirosos

Mijar que nem ovelha – diz-se do cabra mijão

Não vou segurar cabra pra bode mamar! – não facilitar as coisas para os outros, principalmente quando se trata de cabras preguiçosos ou oportunistas, o mesmo que “eu não vou criar galinha pra dar pintos a ninguém”

Olha só onde fui amarrar meu bode! – exprime a concordância com idéias malucas, se meter em confusão, entrar em famílias desajustadas, etc.

Parece um bode sujo – diz-se daquele que anoitece sujo.

Prendam suas cabritas que meu bode está solto! – expressão utilizada por pais de adolescentes em fase de namoro

Seu cabrito – menino atrevido ou desobediente

Sua cabrita – menina atrevida ou desobediente

Vou capar o bode! – expressão utilizada pelo pai, cuja filha foi desonrada por algum cabra safado

Zé Bodão – desajeitado, desarrumado

Ditados populares

"Beijo-te, bode, porque um dia hás de ser odre."
"Espirro de bode é sinal de chuva."

"Se bigode tivesse valor, bode não mijava o dele!"

" Se barba fosse respeito,bode não tinha chifre!"


"Rabo de ovelha, nem serve, nem remedeia!"

"Olho de cabra, miolo de bode!"

Vocabodário – 2a Edição
Criação e Edição – Geneceuda Monteiro
geneceuda.monteiro@gmail.com
83-9134-9075/83-8814-6576

Projeto Gráfico – Fred Ozanan
fredcg@terra.com.br , coverpb@terra.com.br

Colaboração:
Historiador George Gomes de Araújo
Depto. de Turismo e Comunicação Social

Tiragem: 5000 exemplares

Apoio:
Prefeitura Municipal de Cabaceiras -
EMEF Abdias Aires de Queiroz
Proeja – Programa de Educação de Jovens e Adultos

©Todos os direitos reservados - Geneceuda Monteiro

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Elino Julião: o fino da roça

"Toc-toc, tá, tá, tá, toc-toc, ta, tá, tá...". O "toc-toc" em questão é uma tentativa de reproduzir o som que brota das mãos ágeis do cantor Elino Julião, batucando em uma mesa enquanto conta sua história de sucesso. Assisti à cena em vídeo e, confesso, fiquei impressionada com a precisão rítmica do artista. Mal sabia que o cantor foi um dos seguidores de uma das escolas musicais mais apreciadas no Brasil: Jackson do Pandeiro. E no caso de Elino Julião, ele bebeu na própria fonte, pois foi o próprio Jackson quem o introduziu no mundo artístico - não só o integrando a sua banda, mas também organizando e gravando seu primeiro disco.

Desde então, o cantor norte-riograndense começou a colecionar uma sequência de sucessos inesquecíveis como: “Na sombra do Juazeiro”, “Xote do Motorista”, “Puxando fogo”, “O rock do camelo” entre outros. Há tempos que tentava localizar algum audio, ou registro visual sobre o cantor. E, outro dia, muito por acaso, esbarrei com André Julião e, a partir desse encontro, consegui reunir toda a obra do artista. Assim, uma coletânea chegou em minhas mãos, feito presente precioso, através do filho do cantor.

Disposta a revisitar a obra do artista, iniciei minha jornada pelo conteúdo rico preservado pela família e admiradores. Músicas pontilhadas pela simplicidade e espirituosidade do "homem do mato" - como foi definido e liberado pelos membros da ditadura após ser tachado de "subversivo" por causa da canção "O burro é quem dá duro". Engraçado é uma música tão singela como essa, ter dado um “bode” danado! Durante todo o vídeo, o artista segue enlaçando história e estórias de sua carreira, tecendo uma colcha de retalhos costurada pelo seu sorriso franco e pela agilidade de seu batuque.

Em "Eu quero outro rabo de jumento", uma música que retrata um caso verídico ocorrido quando Elino Julião era "meninote", temos um recorte bem característico de sua natureza cabocla. Ele consegue sublimar um fato ocorrido durante sua infância, protagonizado por um tal de Nascimento, em uma narrativa jocosa que põe em xeque o comportamento humano quando cristaliza sua reflexão em "Veja pessoal, que mau elemento/Não sei se o animal é ele ou o jumento". Bom demais!

Pois bem, assim prossegui nessa viagem mergulhada neste mundo “eliniano” descobrindo suas trilhas, suas sinuosidades, redescobrindo as delícias poéticas bem “empalavradas” impressas à sombra de sua história.

E por falar em história, Elino Julião deixou entre seus herdeiros Elino Julião Júnior, um jovem artista que está fazendo grande sucesso levando adiante a obra paterna. Não há nem como não comparar, porque se não bastasse cantar como o pai, a sua aparência e o seu sorriso são iguais em simpatia e espontaneidade. Dessa forma, sua arte, seu talento e sua vida decerto estarão preservados sob a frondosa sombra de um novo juazeiro que resiste para que a chama de sua memória se mantenha acesa.

E por falar em chama, vivamos cada dia, segundo Elino Julião: “O negócio é dançá e sapateá, no fim dá tudo certo”! É isso aí!


Por Geneceuda Monteiro – 27 de maio de 2011.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Conversa com verso...

"Sem motor o juízo eu acelero, Deus mastiga as estrofes que eu tempero..."
Nonato Neto


Há muito que tentava abordar Nonato Neto e Nonato Costa para entender a feitura dos versos durante o desenrolar de um festival de repente. Eram muitas as minhas dúvidas e pouco o nosso tempo disponível para resolvê-las. De sorte, que em uma de nossas recentes viagens me encorajei a abordar os poetas que, com muita boa vontade pedagógica, me descreveram o tal processo poético.

Primeiro, perguntei a Nonato Neto, como o seu cérebro percebe uma palavra. Queria entender - se assim como eu, tão logo "fisgo" a palavra ela vira notícia, - como era para o poeta que lhe chegava a percepção do verso. De acordo com Neto, quando ele absorve uma palavra, de imediato seu cérebro já começa a processar os versos. Imaginemos sua mente como uma perfeita e eficaz usina de letras, processando palavras, sons, rimas e no fim da linha de montagem brotando um verso pronto! Quase como um milagre, não fosse o esforço e trabalho desempenhado por sua mente brilhante. Minha curiosidade ia além, quanto mais o poeta abria seu arquivo de verso e suas habilidades diversas, mais perguntas eram maquinadas em minha mente.

Por exemplo: o que antecede um festival? Como os poetas se preparam? Estudam, lêem, preparam uma "burrinha" para evitar surpresas? E ei-lo mais uma vez: com toda sua singularidade me reponde que preparado de tudo ninguém vai. É preciso está atualizado, ler muito, assistir noticiários, enfim se inteirar das atualidades. Mas essa preparação prévia não garante nada não! Sorrimos juntos! Porque aí, compreendi melhor, seria quase como um vestibular de violas! A hora da famigerada redação, para qual o aluno se prepara sem saber se a temática que se preparou vai cair na hora da prova! Prova de fogo isso sim! Imagina o sujeito receber um tema para desenvolvê-lo no palco, literalmente de repente e ter que ao mesmo tempo interpretá-lo em versos, dedilhar a base de sustentação da viola para o seu parceiro, prestar atenção ao que ele, no caso Nonato Costa, está versejando, e enquanto isso tudo preparar seus versos para expressá-los em seguida! Ufa, é coisa de louco mesmo, para quem tem juízo! De quem é louco por palavras, de quem sabe domá-las, de quem sabe moldá-las e delas tirar-lhe a seiva!

Isso é coisa de Nonato Neto e Nonato Costa, dois grandes artífices do verso. Duas almas singulares e uníssonas.

E assim, acelerando o juízo sem motores, seguem os poetas de verso em popa! Mastigando letras, temperando estrofes e nos servindo sempre o melhor de si! Seguem realizados, completos simplesmente, porque o sonho de todo poeta é ser diverso!


Geneceuda Monteiro, 22 de maio de 2011.
geneceuda.monteiro@gmail.com



sexta-feira, 20 de maio de 2011

NA IMENSIDÃO DE TODAS AS COISAS...

“En tout les choses chercher la femme” ( do francês “Em todas as coisas procure a mulher”)
“um ser maravilhoso, entre a serpente e a estrela...” ("Zé Ramalho")

Na imensidão de todas as coisas está a mulher. Ela é um misto de razão e emoção, anjo e demônio, desdém e desejo. O seu amor quando não leva para o céu, leva para o inferno. É água e fogo consumindo-se um ao outro. É amor e ódio bebendo na mesma taça. É sangue e sal alimentando a vida! É um ser que preenche, mas não se deixa preencher. Salvo quando amada!

Quando um homem ama uma mulher ela se transforma em infinito e se deixa preencher... Homem nenhum é capaz de saber o que se passa no coração de uma mulher, muito menos o que se despe por trás de um olhar. A mulher é um ser jamais satisfeito, seu mundo transita entre o mundo etéreo dos sonhos e a crueldade real das horas. Ela tem os pés no chão e a cabeça nas nuvens. A mulher, como a água, habita o princípio de todas as coisas! Está na essência de tudo! Feito água compõe oceanos, molda rochas, quando gelo, fere fria! A mulher é fogo!

É luz e faca. Quando lâmpada ilumina com suavidade, reflete e planeja o ataque. Se faca, corta às cegas, impiedosamente. Há na mulher Psiquê e Afrodite disputando a mesma alma. Há sempre uma flor encravada nos cabelos de sua poesia. Haverá sempre um mistério preso ao seu sorriso, e nos olhos resquícios de algum amor pelo tempo fossilizado. Há um misto de força e fragilidade em suas mãos, um lampejo de dúvida nos seus passos, uma eterna carícia no seu peito, e isto, bem sabe aqueles que se deixaram repousar no aconchego de seus abraços.

A mulher carrega em si a luz de todas as constelações, em contrapartida, todas as fases da lua! Todos os signos do zodíaco! Quando lua, nunca chega, surge e linda e louca derrama sua luz para todos os campos. Se estrela, ilumina aqueles que na escuridão vivem ilhados. Quando água, refresca, move moinhos, remove montanhas em busca do que quer! Se fogo, aquece, crepita fagulhas de vida e sem pressa segue construindo seu mundo abrasador, cheio de emoções. Quando terra, recebe as sementes lançadas, fertiliza os sonhos, os transforma em flor e os distribui pela vida aflora! Mas quando vira ar, enche todos os ambientes, é impossível não percebê-la, impregna de perfume a natureza humana. Emana raios de alegria por todos os lugares.

A mulher contém a essência de todas as coisas! O homem não! A mulher é a grande causa! O homem, o efeito! Por ela se faz a guerra, por ela a guerra se acaba! Amar uma mulher é sempre um risco de vida e de morte: ou se vive por ela, ou se morre por ela.

(Geneceuda Monteiro)


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Vocabódario na mídia

REPORTAGEM VEICULADA NA REVISTA GLOBO RURAL
Edição 261 - Jul/07

Apresentação

Vocabodário - é um minidicionário de palavras e expressões próprias do falar nordestino, que sofrem a influência direta da caprinovinocultura predominante na região.

Devido essa riqueza cultural, resolvemos catalogar esses verbetes, com a colaboração de alguns alunos de Cabaceiras, para registrar o universo bodístico cabaceirense, somando mais uma atividade cultural à Festa do Bode Rei. O presente Vocabodário é uma proposta pedagógica, que busca agregar valor a cultura local, através do reconhecimento e registro da linguagem popular como fonte de referência da identidade e história de nossa gente.

Durante dois meses, sob a coordenação da pesquisadora Geneceuda Monteiro, estudantes fuçaram livros, tratados, textos de autores regionais e dicionários comuns, conversaram com professores, produtores rurais, parentes e vizinhos, sondaram a memória coletiva do município. O resultado é o Minidicionário Bodês, listagem de substantivos, adjetivos, verbos, metáforas e expressões populares relacionadas caprinocultura. Confira:

bafo-de-bode - s.m. pop mau hálito de quem bebe muita cachaça, catinga de boca
barba-de-bode - s.f. barbicha rala
barbicha-de-bode - s.f. barba pequena e rala semelhante à barba de bode; barba de adolescente (pop)
bê ou béééé - onomatopéia: som produzido pelos caprinos em geral
berrar - v. da onomatopéia bé (da voz da cabra), soltar berros, falar muito alto, gritar, rugir, chamar ou falar aos berros
berrador - s.m. aquele que berra
berrante - s.m. que berra, cor forte, instrumento de sopro feito com chifres, usado por boiadeiros em comitivas de gado
berregar - v. berrar muito alto, freqüentemente
berrego - s.m. berros altos, gritos contínuos
berreiro - s.m. berros altos, gritaria, choro muito forte
berro1 - s.m. som emitido pelos caprinos, grito alto de gente rude
bode1 - s.m. caprino em geral, macho da cabra, caixinha envernizada para guardar dinheiro, matula, farnel, segredo, mistério, de que os elementos de uma especialidade profissional procuram cercar os seus atos
bode2 - s.m. pop. homem muito feio (figurado), mulato, crioulo, indivíduo libidinoso, sátiro, protestante (gíria nordestina para designar os adeptos desta corrente do cristianismo), cada uma das figuras do baralho, em especial o valete, mil-réis (gíria antiga), estado de sonolência provocado por droga
bodeado - adj. chateado, amolado, amuado, mal-humorado
bode-expiatório - s.m. pessoa sobre quem se faz recair as culpas alheias ou a quem são imputados todos os reveses
bodeiro - s.m. criador ou matador de caprinos
bode-azul - especialista em comunicações (gíria da marinha brasileira)
bode-preto1 - especialista em máquinas (gíria da marinha)
bode-preto2 - pop. o demo, o coisa-ruim, o chifrudo, belzebu e outros sinônimos do diabo
bode rei1 - bode escolhido através de concurso para ser coroado como rei durante a festa tradicional de Cabaceiras, PB
bode rei2 - s.m. nome da festa realizada anualmente no município de Cabaceiras, PB, para enaltecer os valores da caprinovinocultura, fortalecendo a economia local, o desenvolvimento turístico e cultural da região
bode-rufiador - adj. diz-se o rufião
bode-rufião - s.m. pop. bode encarregado de atiçar as cabras (sem cobri-las) para identificar quais estão no cio
bode-verde - especialista em hidrografia (gíria da marinha)
bode-vermelho - especialista em armamento (gíria da marinha)
bodês* - s.m. pop. neologismo cabaceirense relativo ao vocabulário caprino, o "vocabodês"
bodeto - s.m. pop. bode novo
bode-velho - s.m. pop. homem velho metido a conquistador
bodiano - adj. neologista cabaceirense para designar tudo o que é relacionado ao bode
bodinho1 - s.m. diminutivo de bode, bode novo, cabrito
bodinho2 - s.m. pop. nome dado a carros populares (o antigo jeep, por exemplo), adolescente namorador
bodístico - adj. outro neologismo cabaceirense: diz-se de todo o universo caprino
bodum - s.m. fedor de bode não castrado, mau cheiro
bolotinho-de-cabra - s.m. brincadeira infantil, o mesmo que bostinha-de-cabra
caba - adj. pop. variação de cabra, "caba-ruim", "caba-bom"
cabra1 - s.f. a fêmea do bode, mulher que grita muito
cabra2 - s.m. adj. pop. homem do Nordeste, cangaceiro, bandido, pessoa de cor branca e cabelo crespo, filho de pai branco e mãe negra (ou vice-versa), mulher devassa
cabra arretado (retado ou arreitado) - s.m. pop. diz-se de um cabra bom, correto, merecedor de elogios (arretado é uma palavra-ônibus que indica numerosas idéias apreciativas)
cabra besta - s.m. pop. indivíduo vaidoso, metido a rico ou a bacana, orgulhoso, presunçoso
cabra bom - s.m. pop. cidadão decente
cabra caloteiro - s.m. pop. velhaco, aquele que não paga nem promessa a santo
cabra da peste - s.m. pop. diz-se do indivíduo valente, corajoso, competente
cabra frouxo - s.m. pop. diz-se do indíviduo covarde, medroso
cabra macho - s.m. pop. corajoso, valente, forte, viril
cabra nojento - s.m. pop. sujeito indecente, sem modos, vulgar
cabra ruim - s.m. pop. diz-se de quem é mau
cabra safado - s.m. pop. homem de má índole, sem vergonha
cabra sarado - s.m.. pop. indivíduo esperto, astuto
cabra-cega - s.f. brincadeira em que uma criança de olhos vendados tenta agarrar outra
cabrão - s.m. pop. criança que berra muito, corno, chifrudo
cabra-onça - s.m. pop. valentão
cabra-seco - s.m. pop. valentão, destemido
cabra-topetudo - s.m. pop. valentão, corajoso
cabreiro1 - s.m. pastor de cabras
cabreiro2 - adj. desconfiado
cabril - s.m. curral de cabras (OB o termo "aprisco", usado às vezes como sinônimo de cabril, designa curral de ovelhas)
cabriola - s.f. salto de cabras
cabriolar - v. dar cabriolas
cabrita1 - s.f. cabra pequena
cabrita2 - s.f. mestiça ainda nova
cabritar - v. saltar como os cabritos
cabritinho1 - s.m. cabrito novinho
cabritinho2 - s.m. pop. jovem moreno escuro ou mulato
cabritismo - s.m. pop. agitação, sensualidade, libidinagem
cabrito1 - s.m. bode novo, pequeno
cabrito2 - s.m. pop. criança inquieta, menino danado
cabroeira - s.f. coletivo, diz-se de um bando de cabras ruins, ou cabras feios ou bandidos
Cabruêra - s.f. nome de uma banda de música regional
capa-bode - s.f. planta da caatiga que serve para fazer vassoura, caipira, matuto, mocorongo
capro - s.m. o mesmo que bode
caprum - s.m. fedor
chupa-cabra - s.m. pop. apelido dado a um cabra muito feio
frei-bode - s.m. pop. diz-se de protestantes
mec-bode - s.m. sanduíche feito com hambúrguer de carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
(Obs.: a grafia correta é "mec", conforme a pronúncia de "mac" em inglês)
mijo-de-ovelha - adj. Pessoa imprestável
pai-de-chiqueiro - s.m. o reprodutor, cabra fedorento
pé-de-bode - s.m. pop. apoio feito com as duas mãos para erguer alguém, sanfona de oito baixos
pé-de-cabra - s.m. alavanca de ferro com uma das extremidades fendidas à semelhança do pé da cabra, instrumento utilizado para arrombar portas
pega do bode - s.f. brincadeira realizada durante a Gincana do Bode Rei em Cabaceiras
pinga-bode - s.f. bebida alcoólica à base de cachaça e leite de cabra
pizza-bode - s.f. pizza recheada com carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
vocabodário - s.m. neologismo criado para designar o conjunto de palavras e expressões bodísticas
vocabodês - s.m. diz-se do dialeto caprino
x-bode - s.m. sanduíche com queijo e carne de bode, prato típico da gastronomia bodística cabaceirense
xixi-de-cabra - s.m. licor refinado que não deixa "bafo de bode"

DITOS POPULARES
Isso vai dar bode - vai acabar em confusão
Amarrar o bode - ficar de mau humor
Estar de bode amarrado - mal humorado
Dormir com as cabras - estar fedendo
Vou capar o bode! - expressão utilizada pelo pai cuja filha foi desonrada por algum cabra safado
Não vou segurar cabra para bode mamar! - não facilitar as coisas para os outros, principalmente quando se trata de pessoas preguiçosas ou oportunistas, o mesmo que "não vou criar galinha para dar pinto a ninguém"
Prendam suas cabritas que meu bode está solto! - expressão utilizada por pais de adolescentes em fase de namoro, principalmente pelo pai orgulhoso da boa aparência e virilidade de seu filho
Olha só onde fui amarrar meu bode! - exprime a concordância com idéias malucas, se meter em confusão, entrar em famílias desajustadas etc.



LEIA MAIS

- Aonde vão as cabras?