sexta-feira, 27 de maio de 2011

Elino Julião: o fino da roça

"Toc-toc, tá, tá, tá, toc-toc, ta, tá, tá...". O "toc-toc" em questão é uma tentativa de reproduzir o som que brota das mãos ágeis do cantor Elino Julião, batucando em uma mesa enquanto conta sua história de sucesso. Assisti à cena em vídeo e, confesso, fiquei impressionada com a precisão rítmica do artista. Mal sabia que o cantor foi um dos seguidores de uma das escolas musicais mais apreciadas no Brasil: Jackson do Pandeiro. E no caso de Elino Julião, ele bebeu na própria fonte, pois foi o próprio Jackson quem o introduziu no mundo artístico - não só o integrando a sua banda, mas também organizando e gravando seu primeiro disco.

Desde então, o cantor norte-riograndense começou a colecionar uma sequência de sucessos inesquecíveis como: “Na sombra do Juazeiro”, “Xote do Motorista”, “Puxando fogo”, “O rock do camelo” entre outros. Há tempos que tentava localizar algum audio, ou registro visual sobre o cantor. E, outro dia, muito por acaso, esbarrei com André Julião e, a partir desse encontro, consegui reunir toda a obra do artista. Assim, uma coletânea chegou em minhas mãos, feito presente precioso, através do filho do cantor.

Disposta a revisitar a obra do artista, iniciei minha jornada pelo conteúdo rico preservado pela família e admiradores. Músicas pontilhadas pela simplicidade e espirituosidade do "homem do mato" - como foi definido e liberado pelos membros da ditadura após ser tachado de "subversivo" por causa da canção "O burro é quem dá duro". Engraçado é uma música tão singela como essa, ter dado um “bode” danado! Durante todo o vídeo, o artista segue enlaçando história e estórias de sua carreira, tecendo uma colcha de retalhos costurada pelo seu sorriso franco e pela agilidade de seu batuque.

Em "Eu quero outro rabo de jumento", uma música que retrata um caso verídico ocorrido quando Elino Julião era "meninote", temos um recorte bem característico de sua natureza cabocla. Ele consegue sublimar um fato ocorrido durante sua infância, protagonizado por um tal de Nascimento, em uma narrativa jocosa que põe em xeque o comportamento humano quando cristaliza sua reflexão em "Veja pessoal, que mau elemento/Não sei se o animal é ele ou o jumento". Bom demais!

Pois bem, assim prossegui nessa viagem mergulhada neste mundo “eliniano” descobrindo suas trilhas, suas sinuosidades, redescobrindo as delícias poéticas bem “empalavradas” impressas à sombra de sua história.

E por falar em história, Elino Julião deixou entre seus herdeiros Elino Julião Júnior, um jovem artista que está fazendo grande sucesso levando adiante a obra paterna. Não há nem como não comparar, porque se não bastasse cantar como o pai, a sua aparência e o seu sorriso são iguais em simpatia e espontaneidade. Dessa forma, sua arte, seu talento e sua vida decerto estarão preservados sob a frondosa sombra de um novo juazeiro que resiste para que a chama de sua memória se mantenha acesa.

E por falar em chama, vivamos cada dia, segundo Elino Julião: “O negócio é dançá e sapateá, no fim dá tudo certo”! É isso aí!


Por Geneceuda Monteiro – 27 de maio de 2011.

Um comentário:

  1. Ualllll.... Que dizer de elino Julião? Palavras jamais descreveriam com exatidão seu rico trabalho artístico������. Meus mais sinceros parabéns pelo texto acima e eterno agradecimento ao elino Julião pelas ricas e importantes obras deixada para a cultura nordestina!!! ����������

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